quinta-feira, 1 de março de 2018

RAÇOS DA MÃE-ÁFRICA : em busca de nossas raízes (XXXVI)


Alder Júlio Ferreira Calado

    Dando prosseguimento ao tema anteriormente aqui tratado, propomos mais uma página dedicada aos provérbios africanos. No seu vasto universo cultural, os aforismos, os provérbios constituem mais uma expressão de como os povos africanos vêem a vida, as relações humanas, a natureza, suas relações com o Sagrado... Cuidamos, desta vez, de pôr entre parênteses, o país africano de referência do citado provérbio. Sempre que possível.
Pelo que podemos perceber, os provérbios alcançam as mais distintas dimensões do viver. Mostram-se portadores de uma inquietação pedagógica de caráter omnilateral. Muito disso decorre de sua condição de peregrinos, dispostos a observarem as mais diversas paisagens, diferentemente de quem se fecha no seu mundinho, qual “Criança que nunca sai de casa, pensa que só sua mãe sabe preparar bem o suco” (Benin).
    Entre tantos fatores de ordem cultural subjacentes a essa afro-sabedoria, um tem a ver com o modo de lidar com o tempo, pois, como reza um de seus provérbios, “Os Europeus têm o relógio, nós temos o tempo.” Modo de se lidar com o tempo que nos torna mais humildes, inclusive na moderação do falar, à medida que vamos entendendo que “Abundância de palavras não significa poder.” (Libéria).
    Há os provérbios atiçando a esperança, que nos ajudam a perseguir com garra e perseverança nossos objetivos, convencidos de que “Aquilo que o coração deseja com ardor, põe as pernas em movimento.” (Burundi) Nesse mesmo sentido, importa sempre o alerta de que “Quem quer mesmo uma coisa, encontra um caminho; quem não quer, encontra uma desculpa.” Afinal, “Não é longo o caminho da floresta, se se ama a pessoa que se vai encontrar.”
Embora difíceis, os caminhos da generosidade e da partilha sempre compensam eventuais sacrifícios, pois “As mãos abertas vão mais longe do que as pernas.” (Camarões).
    Sempre lembrados dos ritmos da vida – diferentes do nosso imediatismo -, os irmãos africanos nos ensinam, a partir de sua experiência, que vale a pena manter-nos esperançosos e persistentes, uma vez que “Nem tudo acontece num só dia. Amanhã também o Sol vai brilhar.” (Angola). Principalmente se não sucumbirmos à pretensão de saber ou de tudo poder, esquecendo que somos aprendizes e que “Todo rio tem sua fonte.” (África do Sul)
    Estaremos tanto mais maduros para uma convivência mais humanizada, quanto mais capazes nos tornarmos de lidar com os diferentes, em busca de nossa intercomplementaridade, seja no âmbito das relações de gênero, de etnia ou geracionais, como acena um outro provérbio segundo o qual “Os jovens caminham mais rápido do que os velhos, mas os velhos conhecem a estrada.”
    Por outro lado, a sabedoria dos povos africanos nos ajuda a repensar nossas práticas pedagógicas, inclusive no terreno da família, hoje mais do que nunca, bombardeada pela grade de valores dominantes, em que, não raro, se cultua a “vida boa”, o hedonismo mais libertino, fazendo vistas grossas aos desafios (presentes e futuros) que a vida nos interpõe, e diante dos quais os nossos filhos correm o risco de sucumbir também por conta de nossa educação permissiva, em nada atenta ao fato de que “Mar calmo não torna bravo o marinheiro.” E quando os filhos põem em prática o que de nós próprios aprenderam, esboçamos o ar de estranheza, esquecidos de que “Nãop se deve pedir ao sal que seja doce” e que “Pode-se curar uma doença, mas não se cura um hábito tornado cativo.”
    Diante de fatos e relatos tão freqüentes, em que parece inverterem-se valores como sabedoria, discernimento, autodisciplina, persistência, busca incessante de aprimoramento, entre outros, talvez nos valha a pena encarar o conselho africano de que “Às vezes cai bem que um sábio seja aconselhado por um louco.” Na próxima edição de ABIBIMAN, vamos ainda oferecer mais alguns provérbios africanos. Desta vez, apoiamo-nos nas seguintes páginas virtuais: http://www.inafrica.it/totem/proverbi.php  ; http://www.0web.it/aforismi/proverbi_africani.php    


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