segunda-feira, 12 de março de 2018

ECOS DA II ROMARIA, EM SANTA FÉ: memória e compromisso*

ECOS DA II ROMARIA, EM SANTA FÉ: memória e compromisso*

Alder Júlio Ferreira Calado

Como prevista e ardorosamente preparada, em mutirão, pela Equipe de Organização, da qual fazem parte as Missionárias e Missionários do Meio Popular Mônica Muggler, Maria da Soledade (Nenem), Nilza, Domingos, entre outros, a cujo trabalho muito se deve o êxito do acontecimento, foi realizada a II ROMARIA, em Santa Fé (Solânea - PB), em memória de Pe. José Comblin, a partir de quem também se fez memória de figuras como Pe. Ibiapina, Dom Hélder, Dom José Maria Pires, e homenagem foi prestada também à figura profética e poética de Dom Pedro Casaldáliga, por ocasião dos seus 90 anos.

Mais uma vez, aquela multidão de missionários e missionárias do meio popular, inspirados na Pedagogia combliniana, estava  a respirar aqueles ares místicos do Santuário de Padre Ibiabina, onde também se acham plantadas, ao lado do Padre-Mestre Ibiapina, além de beatas que o acompanharam nos trabalhos das Casas de Caridade, espalhadas pelo Semiárido, também outros missionários contemporâneos como o Pe. José Comblin, "Profeta da Liberdade", e o Pe. Cristiano Muffler.

O intuito destas linhas não é fazer um relato da II Romaria, mas o de fornecer alguns elementos fortes aí vivenciados. Pensando, sobretudo, em quantos/quantas não puderam participar, desta vez, houve por bem ressoar alguns aspectos recolhidos de parte da programação vivenciada, na ocasião.

As romarias a Santa Fé constituem uma fecunda iniciativa de uma meia dúzia de Escolas de Formação Missionária (inspiradas na pedagogia comblinina, algumas das quais em funcionamento há cerca de três décadas, espalhadas desde o Piauí a Goiás), em íntima e orgânica parceria com várias associações igualmente cultivadoras do legado missionário do Pe. José, tendo como objetivo o reencontro periódico do conjunto de seus protagonistas, para celebrarem a memória do Pe.José e das figuras missionárias de referência popular, ao mesmo tempo que buscam fortalecer os laços orgânicos de unidade e de compromisso com a causa da Tradição de Jesus. Aí se reúnem, a cada cinco anos, centenas de integrantes dessa vasta rede de missionários e missionárias, dentre os quais, além dos formandos e formadores das respectivas Escolas Missionárias, integrantes da Associação dos Missionários e Missionárias do Campo (AMC), integrantes da Fraternidade do Discípulo Amado, membros da Associação de Missionários e Missionárias do Nordeste (AMINE), membros da Associação de Missionárias Populares, integrantes da Fraternidade São Marcos (lá estavam, num reencontro emocionante: Nonato - Cida e os filhos Catarina e Felipe; Madruga- Gilma e as filhas Clara e Heloísa), integrantes do Grupo de Peregrinos e Peregrinas do Nordeste, integrantes de várias comunidades da região, a exemplo, das comunidades em torno de Café do Vento - PB, integrantes do Grupo Kairós, entre outros, ainda contando com membros das CEBs, com várias Pastorais Sociais, a exemplo da CPT, como também de membros de movientos populares, a exemplo do Movimento das Comunidades Populares).

Como o propósito destas breves linhas é apenas o de destacar alguns pontos relativos à II Romaria, recém-concluída, cuidamos, a seguir de sublinhar alguns momentos fortes desta Romaria, em especial em relação aos trabalhos desenvolvidos nas Rodas de Diálogo, no segundo dia da Romaria, sábado, dia 10/03. Como primeiro dia, que foi dedicado às saudações pessoais e comunitárias de acolhimento, boas-vindas, avisos, programação e oração, também no segundo dia, as atividades têm início com a Oração da Manhã (Ofício), com belíssimos cânticos e uma liturgia impregnada do espírito da Boa Nova. Aí convém ressaltar a densa contribuição de várias figuras com vasta experiência nas Missões Populares, a exemplo de Frei Roberto Eufrásio - para mencionar apenas um nome.

Na sequência, coube à Turma (formandas(os) e formadores) da Escola de Formação Missionária de Mogeiro, a bela tarefa de recuperar trechos mais expressivos da biografia de Pe. José Comblin. Tarefa cumprida com brilhatismo e com muita arte - o trabalho feito em mutirão e com arte sempre faz grande diferença!

   Em seguida, aquela grande assembléia foi distribuída em seis grups, chamados, cada qual, a protagonizarem, com a animaçao de um ou dois coordenadores, cada uma das seis rodas de diálogo, dispondo da segunda parte da manhã. Cada participante já estando sabendo de qual roda de diálogo faria parte, foi convidado a acompanhar sua respectiva roda de diálogo, entre as seis anunciadas, com seus coordenadores correspondentes:

RODA DE DIÁLOGO I: Mística e Profecia, tendo como coordenadores: Antônio Jose e Dom Adriano, bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia (conviendo de perto com Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito da mesma Prelazia). Cerca de cinquenta pessoas participaram desta Roda de Diálogo (média de participantes extensiva às demais Rodas de Diálogo). Em sua instigante e exposição, Dom Adriano propôs uma reflexão sobre três dimensões fortes do perfil de Dom Pedro Casaldáliga: a de profeta, a de pastor e a de poeta, trazendo sobre cada uma delas impactantes elementos histórico-biográficos, muito bem tempeados com algumas de suas numerosas e emblemáticas poesias. Após a brilhante exposição feita por Dom Adriano, o missionário itinerante Antônio José passou a coordenar o trabalho de diálogo com os participantes. Após calorosa participação e diálogo dos participantes com Dom Adriano, os participantes foram instigados por Antônio José a darem sugestões sobre qual deveria ser o compromisso, a ser assumido por cada participante e pelo grupo, em consequência da reflexão feita. Saíram muitas sugestões, com um acento mais forte em compromissos tais como: reforçar os espaços de formação (integral: política, ecológica, ética, crítica e auto-crítica) e, lá onde não haja, ousar criar novos espaços, nessa direção; participação maior dos Leigos e Leigas, tanto nos espaços de cidadania no mundo, quanto ao interno da Igreja (estamos vivendo, no Brasil, o Ano do Laicato!); priorizar o exercício da consciência crítica em relação à mídia em geral.

RODA DE DIÁLOGO II: Formação/Educação, coordenada pelo casal Severino Ramos Figueiredo e Ana Cláudia Pessoa. Pelo relato socializado pelos representantes desta roda de diálogo, na parte da tarde do mesmo sábado, foram destacadas prioridades tais como: a necessidade de uma formação contínua; a importância das artes e da cultura popular como componentes indispensáveis deste processo formativo; a ciranda, protagonizada pelos participantes da roda de diálogos, era acompanhada de muitos recursos artísticos (musicas populares, letras criativas, paródia…).

RODA DE DIÁLOGO 3: Organização Social, coordenada por Pe. Hermínio. Debateu-se sobre a complexidade da atual conjuntura, sobre a necessidade de se ter discernimento e paciência história, buscando alimentar-nos de muitas experiências que acontecem no Nordeste e no Brasil, com muitos frutos repletos de criatividade e de alternatividade. Trata-se, pois, de fortalecer nosso processo formativo, inclusive político, nas perspectiva da construção de saídas para o nosso país.

RODA DE DIÁLOGO 4: Francisco e a "Laudato sì", coordenada por Dom Frei Luiz Flávio Cappio, bispo de Barra - BA. Desde sua entrada para a apresentação dos pontos discutidos, sentíamos a vibração dos participantes em relação aos desafios hoje enfrentados pela degradação da mãe-natureza e do povo dos pobres, à luz das tocantes inquietações colhidas da leitura da “Laudato sì”, contribuição primorosa do papa Francisco. Compromissos assumidos: cuidado com a água; tratamento do lixo; plantar uma árvore

RODA DE DIÁLOGO 5: Rompendo barreiras, coordenada por João Batista Magalhães e pelo Pastor Paulo César Pereira. Meio meio a uma cultura de intolerância religiosa, expressa inclusive nos espaços parlamentares, aqui tivemos um espaço exemplar de apostas bem-sucedidas nas tentativas de vivermos um Ecumenismo de base, testemunhando práticas de respeito pelas mais distintas expressões do Sagrado.  

RODADA DE DIÁLOGO 6: Igreja em saída e a Alegria do Evangelho, coordenada por Dom Sebastião Armando Gameleira. Esta roda de diálogos esteve comprometida com o que constitui uma das bandeiras mais caras e recorrentes do Papa Francisco, inclusive em seu documento “A Alegria do Evangelho”. Não dá mais para nos restringir apenas ao templo de nossas Igrejas: temos que ir lá onde se encontram os preferidos do Reino de Deus.  



Tal era a preocupação dos participantes com testemunharem seu compromisso, que foi acolhida a sugestão de, num encerramento dos trabalhos relativos às rodas de diálogo, todos se dispusessem a protagonizar um mutirão de limpeza daquele ambiente e no entorno, em sinal de compromisso com a nossa “Casa comum”.



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* As breves notas que seguem, brotam apenas da memória falha, sem registros escritos, do que pude recolher no segundo dia da romaria.  Por ter participado da roda de diálogo “Mística e profecia”, pude fornecer um pouco mais de elementos.



João Pessoa, 12 de março de 2018.

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