sábado, 3 de março de 2018

TRAÇOS DA MÃE-ÁFRICA: em busca de nossas raízes (XXXIX)


Alder Jùlio Ferreira Calado

    Ensaiando um ligeiro olhar sobre o mundo das artes dos povos africanos, vemo-nos diante de um complexo mosaico de manifestações culturais, sob formas variadas e densas. Incursionar, pois, ainda que superficialmente, pela constelação artística dos povos d´África, implica desaguar em agradáveis surpresas. Percebemos sem demora o porquê do significativo fascínio que ela exerceu sobre gênios da arte como Picasso, Modigliani, Matisse, entre outros. Influência que se dava, sob várias formas, inclusive por conta das famosas máscaras, como no caso de Modigliani. Numa das páginas consultadas sobre a biografia deste, lê-se, por exemplo: “Nota-se em suas esculturas uma forte influência da arte africana e cambojana, que provavelmente conhecera no "Musée de l'Homme". Seu interesse pelas máscaras africanas é evidente no tratamento dos olhos de seus modelos.”
    Sobre a magia que as máscaras exercem, no universo artístico dos povos africanos, tornou-se célebre a poética avaliação de um famoso intelectual senegalês, o conhecido líder político Léopold Sédar Senghor: “Masques! Ô Masques! Masque noir masque rouge, vous masques blanc-et-noir Masques aux quatre points d'où souffle l'Esprit Je vous salue dans le silence! Et par toi le dernier Ancêtre à tête de lion. [...]”  (“Máscaras! Ó Máscaras! Máscara preta, máscara vermelha, vocês, ó máscaras alvi-negras. Máscaras de quatro pontos donde sopra o Espírito. Eu as saúdo no silêncio! E por vocês, o último Ancestral de cabeça de leão.” cf. « Chants d'ombre », Oeuvre poétique, le Seuil, Paris 1956, in  http://arts.africains.free.fr/ ).
    Ainda sobre a forte carga de simbologia que impregna as manifestações artísticas dos povos africanos, representadas pelas máscaras, lemos em outro “site”: “Num canto, podem estar quinze máscaras, todas com chifres. Ao lado delas, mais quinze, representando animais selvagens. Pode também haver caras esculpidas com pregos nos olhos; outras com línguas protuberantes; outras abstractas com cabeças achatadas, testas proeminentes, maxilares distendidos e narizes impossivelmente longos; e, é claro, as incontornáveis máscaras chiwara (de antílope). As estatuetas costumam estar dispostas atrás das máscaras. Umas são altas, brandem facas ferrugentas e têm os pénis pendentes até aos joelhos, outras são barrigudas e recobertas de cicatrizes tribais. Há estatuetas com cobras na cabeça; outras com os braços erguidos, com uma só perna, com três pernas; outras ainda a andar a cavalo ou a servir de base para um banco; e outras que são semi-humanas, semi-animais, ou semi-masculinas, semi-femininas. Dispostas deste modo, as máscaras e estatuetas tornam-se parte integrante do mercado. Como qualquer outra mercadoria, elas competem por um comprador que possa restaurar o seu carácter único como máscara baule, máscara fang, ou imagem ancestral dogon. Ao competirem esteticamente entre si, elas adquirem um ar dramático, como se dissessem: compra-me a mim, sou mais autêntica do que as outras. Compra-me a mim, sou a máscara mais bonita que há aqui. Compra-me como recordação deste lugar. Compra-me, farei um bom presente.” (cf. http://www.artafrica.info/html/artigotrimestre/artigo.php?id=6 ).
    A despeito do seu uso universal, as artes não comportam padronização, o que negaria a capacidade criativa de cada povo. Antes, expressam as singularidades culturais dos diferentes povos, seus costumes, suas crenças, seus valores. Assim, também, ocorre com as artes dos povos africanos. Elas também representam seus usos, seus hábitos tribais. Além do seu sentido especificamente estético, respondem também a um sentido prático, funcional, de acordo com a sensibilidade de cada povo, de cada etnia.
    Eis o que significam suas máscaras, suas estatuetas, a representarem seres humanos, animais, forças ancestrais, expressões religiosas... Diversos são os materiais utilizados para suas esculturas: desde o barro, o ouro, o bronze, o marfim, a madeira, etc. Também utilizadas em seus ritos funerais, as máscaras representam “um disfarce para a incorporação dos espíritos e a possibilidade de adquirir forças mágicas”. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Arte_de_%C3%81frica )
    Aqui destacamos apenas duas ou três modalidades artísticas, principalmente a escultura. Outras tantas existem, é claro: a dança, a música, a arquitetura, o teatro, as várias formas de artesanato. Apenas tocamos de leve esse vasto universo. Além das páginas mencionadas, vale a pena visitar, por exemplo, as seguintes: http://www.arts-africains.com/ ; http://www.artheos.org/; http://www.manigalerie.com/

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