sábado, 3 de março de 2018

TRAÇOS DA MÃE-ÁFRICA: em busca de nossas raízes (XL)



Alder Jùlio Ferreira Calado

    Elementos do artesanato africano – eis o que ora trazemos à baila. Embora não me agrade muito o emprego deste termo (não raro, chama-se arte a produção das elites, enquanto se reserva o vocábulo artesanato à produção popular), trato de sublinhar traços relevantes da rica diversidade dos produtos artísticos dos povos africanos, confeccionados em barro, em madeira, em matais, em tecido, em marfim, em vidro, em pedra, etc.
    Tal como se passa em outros povos, o artesanato africano também se faz expressão do viver e do conviver, traduzindo sua visão de mundo, apresentando cenas das relações dos Humanos entre si, dos Humanos com a Mãe-Natureza e dos Humanos com o Sagrado. Suas esculturas em madeira refletem, por exemplo, pequenas figuras de animais ou cenas alusivas às divindidades, a fatos e a circunstâncias diversas do cotidiano.
    Dignos de registro são igualmente os objetos confeccionados com pedaços de vidro de cores diversas. Eles costumam usar fragmentos de vidro colorido na confecção de gorros, onde são inseridas figuras humanas e de animais, feitas com fio de algodão, cujos fios perpassam todo o tecido, em combinação vertical. Também costumam usar pedras que podem ser substituídas ou alternadas com cauris ou canudilhos metálicos ou de seda e algodão, conforme podemos conferir no seguinte “site” da Wikipédia, segundo a qual “Os tecidos são lisos ou estampados, os bordados são rebordados com linhas e com pedras de vidro. Confeccionam roupas longas e gorros. A inventividade do bordado com pedras de vidro está muito espalhada nas populações da República da Nigéria. Os suportes para abanos, crinas e rabos de animais, também decoram com pedras de vidro, canudilhos e cauris.” Ainda com relação ao artesanato em tecido, prossegue o referido “site”: “Os tecidos e o vestuário chegaram a um desenvolvimento plástico considerável em zona de sultura urbana, assimilando muitos elementos da indumentária islâmica e outros introduzidos pelos europeus colonialistas. O tear horizontal, permitiu a confecção variada de tiras que posteriormente se juntam longitudinalmente para formar tecidos maiores. Deste tipo de confecção o mais característico é o chamado Kente, entre os Ashanti. Ainda entre estes tecidos está o estampado chamado Denkira, com figuras diferentes que se combinam para estruturar um desenho ou determinar um motivo fundamental. Os desenhos são imersos em uma tintura vegetal e impressos em tecido branco estendido em uma almofada.”
    Diversas são as páginas virtuais que nos proporcionam um quadro panorâmico dessa diversidade artesanal dos povos da África, que nos dão conta, por exemplo, de um número considerável de suas famosas máscaras, de estatuetas, de instrumentos musicais, uma enorme variedade de utensílios, jóias, produzidos pelos povos africanos, em vários países. Vale a pena visitar, por exemplo: http://www.artisanat-africain.com/
    A produção artístico-cultural africana, para além dos objetos artesanais, tem despertado amplo interesse. Um atestado disso está no fato de que boa parte desse vasto material se acha em museus de países colonizadores ou do centro do Capitalismo. Só no Museu da Universidade da Pensilvânia, existem mais de onze mil objetos artísticos apenas relativos uma coleção da região do Sub-Sahara. (http://www.africa.upenn.edu/Sculpture/af_sculpt.html )
    A partir dessas rápidas informações, de caráter aperitivo, vale a pena continuarmos empenhados em descobrir tantas outras formas de artesanato, nos mais distintos rincões do enorme continente africano, em cada um de seus povos. Por meio da navegação pelas páginas da rede mundial de computadores, nossas descobertas se sucederão. Exercício fecundo que nos proporciona um aprendizado das ricas potencialidades artísticas da Mãe-África, que tomamos como inspiração para o aprimoramento incessante de nosso processo de humanização.
    Iniciativa tanto mais valiosa quanto nos deparamos com  graves sinais barbárie a infelicitarem a vida dos Humanos e do Planeta. Que a contemplação artística da experiência de outros povos – no caso dos povos d´África – nos ajude e nos encoraje a envidar esforços nesse grande mutirão de construção de uma sociedade alternativa a essas manifestações de barbárie, em relação às quais somos, por vezes, tentados a nos acomodar ou mesmo a “naturaliza-las”.

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