Alder Júlio Ferreira Calado
Nossa
primeira atitude é a de manifestar congratulação com o testemunho profético
verificável, também nos dias de hoje, por parte de membros e de instituições
eclesiais, fieis de algumas instituições eclesiais, fieis aos valores do Reino
de Deus e sua justiça. Trata-se das “minorias abrahamicas” como costumava chamar
Dom Helder Câmara. Sucede, toda via, que tais testemunhos vêm sendo cada vez
mais escassos, em nossa atualidade, enquanto vemos multiplicarem-se sinais e
testemunhos de idolatria, em não poucos membros – principalmente lideranças –
destas mesmas igrejas cristãs...
Um sincero
exame crítico do comportamento dominante em não poucas Igrejas cristãs,
especialmente da parte de seus dirigentes, permite a constatação indignada de
escandalosos traços idolátricos, praticados em "nome de Deus" (qual
deles: o Deus de Jesus de Nazaré ou deus Mamon, denunciado pelo próprio Jesus e
pelos profetas do Povo de Deus?), nas mais distintas esferas da realidade
social, tais práticas são observáveis, nas relações do dia-a-dia. No âmbito da
economia, por exemplo, chama a atenção o fenômeno da espantosa multiplicação de
igrejas, ao ponto de levar alguém a concluir: "Pequenas Igrejas, grandes
negócios"... O surgimento e contínua expansão das igrejas neopentecostais
(há quem prefira o termo "pós-pentecostais"), no Brasil, na América
Latina e no mundo, tanto as de orientação protestante, quanto as de perfil
católico, tem prosperado, com igual velocidade, o crescimento massivo de seus
seguidores, desde os anos 60, partindo dos Estados Unidos. Acerca deste
fenômeno, e focando os mais diversos ângulos, há uma vasta literatura, estudos
e pesquisas disponíveis. Disto não cuidarei aqui. Nesses estudos e pesquisas,
chama particularmente a atenção o poder de sedução exercido por tais igrejas
sobre multidões constituídas principalmente do povo dos pobres que, vivendo
como ovelhas desgarradas, se tornam presas fáceis de não poucos lobos vestidos
em pele de ovelha...
Movidos
por interesses escusos, muitos se travestem de pastores. Em qualquer recanto,
abrem uma igreja, e passam a atrair desvalidos de toda sorte: desempregados,
pessoas desesperadas, gente acometida das mais variadas enfermidades - em
especial enfermidades da alma -, empenham-se em seduzi-las com promessas
milagrosas, por meio de apelos ao seu pobre bolso. Como se trata de multidão,
os "trocados" viram atrativos recursos, em pouco tempo. E, em
breve, aquele templo acanhado vai tomando proporções avantajadas, como sucedeu
e sucede a muitos templos de algumas destas igrejas, graças à combinação de uma
gama sofisticada de estratégias lucrativas, usando e abusando da boa-fé dos
incautos...
Em nome de Deus, vêm-se multiplicando
os crimes contra a economia popular, por parte de não poucas lideranças dessas
igrejas. A tal ponto, que alguns repentistas não hesitam em tematizar,
indignados, tal perversão, como o faz, por exemplo, a dupla de repentistas, ao
glosar o mote “no comércio da fé, Jesus não passa/De um produto vendido a
prestação”.
Neste sentido, algumas dessas
lideranças religiosas se têm notabilizado pelo sucesso econômico (cf. por
exemplo, o link https://www.youtube.com/watch?v=sVs1hWFUOZU)
Igualmente, esses sinais idolátricos
também se dão na esfera política. Não é por acaso que, sobretudo nos últimos
anos, vem-se constatando uma verdadeira partidarização religiosa, bem presente
no Estado brasileiro, em especial na câmara federal. A mais recente campanha
eleitoral, no Brasil, bem atesta o crescimento desses sinais idolátricos, em
homenagem ao deus Mamon. Não se trata apenas de igrejas neopentecostais de
orientação protestante, mas também – e com igual “sucesso” – de segmentos
relevantes da/na Igreja Católica Romana, haja vista a influência exercida, na
última campanha eleitoral por programas de televisão de algumas emissoras
católicas, sem esquecer seu desempenho vulpino nas redes sociais.
No âmbito cultural, por outro lado,
se manifestam ainda mais deletérios seus efeitos nocivos, principalmente por,
em nome de Deus pregarem um discurso que pouco ou nada tem a ver com os
ensinamentos do evangelho e com o legado de Jesus de Nazaré.
De todos os modos, a grande lição a
extrair é quanto à urgência de formação crítica, contínua de enormes parcelas
de nossa população, cuja boa fé e ingenuidade são usadas e abusadas por lobos
travestidos de cordeiros, sem que se sintam em condições de desmascarar e de
superar trais estratégias daninhas.
Eis uma tarefa histórica – o compromisso
com a formação contínua – a ser enfrentada por nossas organizações de base, com
o objetivo de (re)empoderar nossa sociedade civil, seja do ponto de vista
organizativo, seja do ponto de vista da formação contínua em vista de tornar os
desvalidos de nossa sociedade menos vulneráveis à ação destrutiva dessas
manifestações idolátricas.
João Pessoa 06 de dezembro de 2018.
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