sexta-feira, 29 de setembro de 2017

INSTITUIÇÃO X CARISMA: breve nota, a partir do legado de José Comblin



Alder Júlio Ferreira Calado

Amanhã, sábado, dia 30/09/2017, no auditório da Livraria Paulinas, em João Pessoa, a partir das 8h30, terá lugar a Sessão de encerramento da VII Semana Teológica Pe. José Comblin, culminando as fecundas experiências vivenciadas, nas quatro Jornadas Comunitárias - componentes da programação da referida STPJC, realizadas em Cabedelo (10/08), no Rangel (João Pessoa, 03/09); Café do Vento (Sobrado, 17/09) e no Alto do Mateus (João Pessoa, 24/09), nas quais se refletiu sobre o tema da VII STPJC: "Instituição e Carisma, à luz da Tradição de Jesus", tema que será retomado, na sessão de encerramento, com a partilha das experiências colhidas em cada Jornada Comunitária, por meio dos respectivos delegados e delegadas, e pela reflexão sobre o mesmo tema, a ser oferecido por Dom Sebastião Armando, Bispo emérito da Igreja Anglicana, contando ainda com a colaboração do Prof. Vanderlan Paulo de Oliveira, coordenador dos trabalhos, de membros da Rede Celebra e dos organizadores e organizadoras da VII STPJC (Grupo Kairós, Centro de Espiritualidade Dom Helder Câmara, Grupo Igreja dos Pobres, Escola de Formação Missionária de Mogeiro, entre outros).

Como se percebe, ainda que focado mais diretamente sob o ângulo teológico, "Instituição" e "Carisma" constituem experiências e conceitos que extrapolam o âmbito teológico. Permeiam, também, a vida social, econômica, política, cultural... As linhas que seguem restringem-se a este plano. As sociedades também se acham impregnadas, ao longo da história, da tensão constante entre instituição e carisma, entre o instituído e o instituinte, entre poder e mudança, etc. No caso de nossa sociedade, o noticiário de cada dia dá conta, à exaustão, do exaurimento do instituído e da acentuada fragilidade, observável em nossas organizações de base, no atual contexto, de sua capacidade instituinte.  O modelo vigente de organização societal, já há muito tempo não atende à satisfação  das necessidades e das aspirações fundamentais da enorme maioria da população. Não apenas sua estrutura de produção, mas também sua forma de organização, suas instituições, sua grade de valores, sua relação com a Mãe Natureza encontram-se esgotadas, igualmente, seu organismo principal de gestão – o Estado – cada vez mais da prova de ineficiência de esterilidade, tornando-se cada vez mais nocivo à vida do Planeta e da comunidade dos viventes.

Criadas para atenderem as aspirações humanas, as instituições vêm alcançando um progressivo nível de burocratização que ameaça populações inteiras, ao tempo em que aceleram as agressões e os estragos cometidos ao planeta e aos humanos.

Em seu livro “Vocação para a Liberdade”, José Comblin, analisando as instituições modernas, após reconhecer que elas são necessárias à vida em sociedade, destaca suas crescentes limitações. Exemplificando várias delas – Estado, Escola, Hospitais, Exercíto, Igrejas, etc. -, eis o que afirma a proposito da Universidade: “A universidade também encarnava o espírito das luzes, da liberação mental. Ora, as revoltas estudantis de 1967/8 destruíram a fama sem mancha das universidades, espaço da domesticação mental, da burocratização da juventude, em que os jovens são preparados para ser o servidores submissos do sistema de dominação mental, exploração econômica e ditadura do Estado. Os estudantes perderam o orgulho de pertencer à elite da nação como futuros dirigentes da sociedade. Frequentam a universidade para conquistar um diploma que lhes permita exercer uma função na sociedade: preparação programada para funções programadas. Por isso o que se pede aos professores é muito papel impresso de trabalhos pseudocientificos que ninguém vai ler, e os estudantes, uma memória sem falha, e sobretudo, nada de inteligência crítica, porque isso só viria a prejudicar a carreira.” (cf. p.210).

As próprias organizações de base (movimentos populares, sindical, associações, cooperativas..) das quais se espera o principal protagonismo na transformação da sociedade, não se acham imunes à tendência burocratizantes das instituições. Max Weber e Troeltsch, entre outros, deram conta do risco de burocratização enfrentado por movimentos sociais, a exemplo dos Anabatistas. Ainda hoje, os movimentos sociais, populares e sindical, além de outras organizações de base, enfrentam semelhante desafio, tal a força burocratizante exercida pelas instituições. Uma vez constatado o risco de burocratização não se deve render ao fatalismo, como se isto constituisse um destino inevitável de todas as organizações de base.

                                                                                                                            

É pela tomada de consciência e pelo exercício do carisma, que se faz caminho em direção à superação dos riscos acarretados pelo isntituído. Veremos, a seguir, qual é o entendimento  de Carísma, no legado de José Comblin.
No legado combliniano, o entendimento de carisma vem intimamente associado ao de Liberdade. Enquanto as instituições tendem ao ingessamento da criatividade e a uma tediosa rotina de repetições programadas, o Carisma, por sua vez, é movido pela criatividade, pela constante renovação, enfim, pela Liberdade, o carisma impele os seres humanos a irem além do que modelam as instituições. O Carisma induz para além da rotina estabelecida, para além da normose. Por conseguinte, é para a Liberdade, que tende o carisma, na medida em que esta vai além da vida, entendida como o horizonte dos seres viventes, enquanto os seres humanos se completam na Liberdade, que é um chamamento contínuo de plenitude, chamamento vindo do Sopro fontal, do Espirito Santo, razão por que se costuma dizer: “Ubi spiritud, ibi Libertas” (Onde estiver o Espiríto, aí está a Liberdade).
Estando compreendidos, no legado combliniano, Carisma e Liberdade, de forma intimamente associada, torna-se compreensível o modo como José Comblin fala da Liberdade:


“A liberdade está no agir para se libertar. Essa é a vocação humana: tornar-se alguém, uma pessoa, fazer-se uma personalidade mediante uma luta, um trabalho. Uma atividade que consiste em se libertar.  A libertação tem uma finalidade: tornar-se mais livre, dar-se a si próprio uma personalidade realmente mais livre. A liberdade é o seu próprio fim, e ela se constrói no decorrer da vida no meio das oportunidades dentro das vicissitudes de uma escência humana terrestre. Ser livre é criar  a sua própria personalidade, algo novo único, porque não há duas pessoas iguais nem semelhantes, ainda que sejam bilhões.” (cf. p.238)

João Pessoa, 29/09/17

Nenhum comentário:

Postar um comentário