Alder Júlio Ferreira Calado
Amanhã, sábado, dia 30/09/2017, no auditório
da Livraria Paulinas, em João Pessoa, a partir das 8h30, terá lugar a Sessão de
encerramento da VII Semana Teológica Pe. José Comblin, culminando as fecundas
experiências vivenciadas, nas quatro Jornadas Comunitárias - componentes da
programação da referida STPJC, realizadas em Cabedelo (10/08), no Rangel (João
Pessoa, 03/09); Café do Vento (Sobrado, 17/09) e no Alto do Mateus (João
Pessoa, 24/09), nas quais se refletiu sobre o tema da VII STPJC:
"Instituição e Carisma, à luz da Tradição de Jesus", tema que será
retomado, na sessão de encerramento, com a partilha das experiências colhidas
em cada Jornada Comunitária, por meio dos respectivos delegados e delegadas, e
pela reflexão sobre o mesmo tema, a ser oferecido por Dom Sebastião Armando,
Bispo emérito da Igreja Anglicana, contando ainda com a colaboração do Prof.
Vanderlan Paulo de Oliveira, coordenador dos trabalhos, de membros da Rede
Celebra e dos organizadores e organizadoras da VII STPJC (Grupo Kairós, Centro
de Espiritualidade Dom Helder Câmara, Grupo Igreja dos Pobres, Escola de
Formação Missionária de Mogeiro, entre outros).
Como se percebe, ainda que focado mais
diretamente sob o ângulo teológico, "Instituição" e
"Carisma" constituem experiências e conceitos que extrapolam o âmbito
teológico. Permeiam, também, a vida social, econômica, política, cultural... As
linhas que seguem restringem-se a este plano. As sociedades também se acham
impregnadas, ao longo da história, da tensão constante entre instituição e
carisma, entre o instituído e o instituinte, entre poder e mudança, etc. No
caso de nossa sociedade, o noticiário de cada dia dá conta, à exaustão, do
exaurimento do instituído e da acentuada fragilidade, observável em nossas
organizações de base, no atual contexto, de sua capacidade
instituinte. O modelo vigente de organização societal, já há muito
tempo não atende à satisfação das
necessidades e das aspirações fundamentais da enorme maioria da população. Não
apenas sua estrutura de produção, mas também sua forma de organização, suas
instituições, sua grade de valores, sua relação com a Mãe Natureza encontram-se
esgotadas, igualmente, seu organismo principal de gestão – o Estado – cada vez
mais da prova de ineficiência de esterilidade, tornando-se cada vez mais nocivo
à vida do Planeta e da comunidade dos viventes.
Criadas para atenderem as aspirações humanas,
as instituições vêm alcançando um progressivo nível de burocratização que
ameaça populações inteiras, ao tempo em que aceleram as agressões e os estragos
cometidos ao planeta e aos humanos.
Em seu livro “Vocação para a Liberdade”, José Comblin, analisando as instituições modernas, após reconhecer que elas são
necessárias à vida em sociedade, destaca suas crescentes limitações.
Exemplificando várias delas – Estado, Escola, Hospitais, Exercíto, Igrejas,
etc. -, eis o que afirma a proposito da Universidade: “A universidade também
encarnava o espírito das luzes, da liberação mental. Ora, as revoltas
estudantis de 1967/8 destruíram a fama sem mancha das universidades, espaço da
domesticação mental, da burocratização da juventude, em que os jovens são
preparados para ser o servidores submissos do sistema de dominação mental,
exploração econômica e ditadura do Estado. Os estudantes perderam o orgulho de
pertencer à elite da nação como futuros dirigentes da sociedade. Frequentam a
universidade para conquistar um diploma que lhes permita exercer uma função na
sociedade: preparação programada para funções programadas. Por isso o que se pede
aos professores é muito papel impresso de trabalhos pseudocientificos que
ninguém vai ler, e os estudantes, uma memória sem falha, e sobretudo, nada de
inteligência crítica, porque isso só viria a prejudicar a carreira.” (cf.
p.210).
As próprias organizações de base (movimentos
populares, sindical, associações, cooperativas..) das quais se espera o
principal protagonismo na transformação da sociedade, não se acham imunes à
tendência burocratizantes das instituições. Max Weber e Troeltsch, entre
outros, deram conta do risco de burocratização enfrentado por movimentos
sociais, a exemplo dos Anabatistas. Ainda hoje, os movimentos sociais,
populares e sindical, além de outras organizações de base, enfrentam semelhante
desafio, tal a força burocratizante exercida pelas instituições. Uma vez
constatado o risco de burocratização não se deve render ao fatalismo, como se
isto constituisse um destino inevitável de todas as organizações de base.
É pela
tomada de consciência e pelo exercício do carisma, que se faz caminho em
direção à superação dos riscos acarretados pelo isntituído. Veremos, a seguir,
qual é o entendimento de Carísma, no
legado de José Comblin.
No
legado combliniano, o entendimento de carisma vem intimamente associado ao de Liberdade.
Enquanto as instituições tendem ao ingessamento da criatividade e a uma tediosa
rotina de repetições programadas, o Carisma, por sua vez, é movido pela
criatividade, pela constante renovação, enfim, pela Liberdade, o carisma impele
os seres humanos a irem além do que modelam as instituições. O Carisma induz
para além da rotina estabelecida, para além da normose. Por conseguinte, é para
a Liberdade, que tende o carisma, na medida em que esta vai além da vida,
entendida como o horizonte dos seres viventes, enquanto os seres humanos se
completam na Liberdade, que é um chamamento contínuo de plenitude, chamamento
vindo do Sopro fontal, do Espirito Santo, razão por que se costuma dizer: “Ubi spiritud,
ibi Libertas” (Onde estiver o Espiríto, aí está a Liberdade).
Estando
compreendidos, no legado combliniano, Carisma e Liberdade, de forma intimamente
associada, torna-se compreensível o modo como José Comblin fala da Liberdade:
“A
liberdade está no agir para se libertar. Essa é a vocação humana: tornar-se
alguém, uma pessoa, fazer-se uma personalidade mediante uma luta, um trabalho. Uma
atividade que consiste em se libertar. A
libertação tem uma finalidade: tornar-se mais livre, dar-se a si próprio uma
personalidade realmente mais livre. A liberdade é o seu próprio fim, e ela se
constrói no decorrer da vida no meio das oportunidades dentro das vicissitudes
de uma escência humana terrestre. Ser livre é criar a sua própria personalidade, algo novo único,
porque não há duas pessoas iguais nem semelhantes, ainda que sejam bilhões.”
(cf. p.238)
João Pessoa, 29/09/17
João Pessoa, 29/09/17
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