Como tem ocorrido periodicamente, vivemos um ano relativamente atípico, principalmente por força de tratar-se de um ano de copa e de um ano eleitoral (com eleições gerais). Ano que propicia, mais do que de hábito, a cultura do “pão e circo” dos antigos romanos. Tememos, por conseguinte, que, nesses próximos quarenta e cinco dias, tudo se transforme num gigantesco e anestesiante “carnaval da copa”…
Situação favorável a que passem ao largo fatos gravíssimos que se produzem, no âmbito internacional e no próprio cenário nacional. O mais recente foi o covarde ataque perpetrado pelo exército de Israel contra embarcações em missão humanitária. Com a agravante de que o fato ocorrido em águas internacionais, a cerca de 60 Km de Israel. Embora grave, o fato constitui apenas a ponta de um enorme “iceberg” de terror e violência reiterados, com a cumplicidade de grandes potências, à frente os Estados Unidos.
Referimo-nos aqui, em especial, ao que anda se passando na Faixa de Gaza, terra dos Palestinos, brutalmente impedidos acintosamente pelo Estado de Israel de viverem em sua própria terra, com autonomia e liberdade. Não bastassem os territórios violentamente anexados e assim mantidos e ampliados por Israel, em sucessivas guerras, com o apoio ou a cumplicidade das grandes potências, a começar pelos Estados Unidos, agora nem no minúsculo território que lhes restou (uma área de pouco mais de 350 mil Km2, onde se acham confinados um milhão e meio de habitantes), os Palestinos podem respirar…
Vivem, ou mais precisamente sobrevivem, há três anos, a pão e água, num bloqueio desumano imposto por Israel a manu militari – afinal Israel tem-se mostrado, desde o início, um Estado belicoso, vivendo de guerra e para a guerra -, em flagrante desrespeito ao Direito Internacional. Situação que, em relação ao Povo Palestino, guardadas as proporções, lembra os campos de concentração nazistas, de que foram as principais vítimas os judeus, cujo Estado hoje reproduz contra os Palestinos aquilo de que ontem foi vítima o povo judeu…
Ações de reiterada violação aos Direitos Humanos mais elementares são praticadas pelo Estado de Israel. E o pior: de modo impune! Até parece que, num fórum como o da ONU, cada israelense vale por centenas ou milhares de cidadãos, numa escala cuja definição dependa da força e do prestígio de seu respectivo país.
Uma ideologia que, mais do que pensada e difundida, tem sido posta em prática reiteradamente pelos seus protagonistas e aliados. Os sionistas, apoiados em tal ideologia, tentam passar a presunção de que a vida de um cidadão israelense (ou norte-americano) vale muitas vezes mais do que a vida de centenas ou de milhares de cidadãos de outra parte do mundo.
O massacre mais recente – do qual resultaram nove mortes e cerca de quarenta pessoas feridas – pode servir para ilustrar um pouco tal situação. Israel – sempre protegido pelo privilégio do veto dos Estados Unidos, no Conselho de Segurança da ONU – sente-se blindado e imune a qualquer punição por parte da ONU, e, por isso mesmo, encorajado a reeditar seus massacres contra os Palestinos e seus vizinhos aliados, sem que nada lhes aconteça, além das pedras lançadas por suas vítimas de Gaza. Para tanto, tentam em vão passar a idéia de que lutam contra os “terroristas” do Hamas…
No episódio mais recente do ataque covarde à embarcação em missão humanitária, perpetrado em águas internacionais, Israel comete mais uma de suas investidas assassinas, desta vez contra embarcações em que viajavam pessoas de cerca de 60 países. Ataca, mata, fere, prende, arrasta para seu país, interroga, julga, ou seja, tripudia do Direito Internacional, na certeza da impunidade. Desta vez, houve protestos generalizados. Mas, a costumeira arrogância do Governo dos Estados Unidos, costumeiramente tão contundente contra os “terroristas do Eixo do mal” (Irã, Coréia do Norte…) agora se transforma em cautela e “prudência” em relação ao terrorismo praticado por seus aliados…
Imaginemos, por exemplo, a hipótese de o abominável e covarde ataque cometido pelo exército de Israel contra as embarcações com pessoas de cerca de 60 países (Brasil, inclusive), em missão evidentemente humanitária, tivesse sido cometido pelo exército de outro país (Irã, Cuba, Brasil, Venezuela, Coréia do Norte, Síria…), qual teria sido a reação imediata de governos como o dos Estados Unidos, dos países europeus e de sua respectiva mídia?
Importa, sim, que nos indignemos profundamente. Ser humano, não importa onde viva, ou qual sua condição, tem que ser tratado com justiça e com rspeito. E que de tal indignação profunda resultem gestos concretos, que acenem para o nosso compromisso de o nosso efetivo empenho na construção de um novo mundo.
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