segunda-feira, 4 de junho de 2018

A PARTICIPAÇÃO D@S NEGR@S NAS OLIMPÍADAS


A PARTICIPAÇÃO D@S NEGR@S NAS OLIMPÍADAS

Alder Júlio Ferreira Calado

            Durante a última metade de agosto próximo findo, tivemos a oportunidade de acompanhar a participação de atletas do mundo inteiro nas Olimpíadas 2004, em Atenas. À parte lances de “patriotada” de certos atletas e comentaristas, e outras cenas menos edificantes, os Jogos Olímpicos continuam a fascinar como espaço-tempo de criatividade, de superação de limites e, sobretudo, de muito aprendizado, dada a enorme variedade de aspectos (sociais, econômicos, políticos, culturais), que eles suscitam, para além de seu espectro estritamente lúdico.
            Aqui tomemos como referência, por exemplo, o aspecto inter-étnico. Tendo em vista a enorme diversidade étnica d@s atletas, quê olhar podemos lançar por sobre o desempenho d@s atletas Negr@s e a repercussão sobre seus respectivos países?
            Ao acompanharmos as partidas de diferentes modalidades de esportes olímpicos, podemos apreciar uma série de detalhes ricos em significado: do tamanho das delegações aos países por elas representados; da relação entre investimento e resultados aos critérios de julgamento do desempenho d@s atletas; das condições de treinamento asseguradas ao conjunto d@s atletas ao resultado por eles/elas obtidos... Fixemo-nos, de passagem, num deles: a participação d@s Negr@s nos jogos olímpicos.
            Com naturalidade, acompanhamos o desempenho surpreendente de não poucos atletas provenientes de boa parte dos países africanos. Quantas e quantos se têm destacado, nestes e em jogos anteriores! O que nos soa intrigante, porém, é a constatação de um número significativo de Negr@s a defenderem países de população majoritariamente branca.
            Acompanhamos jogos d@s atletas chineses, japoneses, etc., e nada temos a estranhar quanto ao biótipo dos seus representantes. Espelham, também sob este ponto de vista, as características biológicas de seus respectivos povos. Não é, porém, o caso de um número considerável de atlet@s representantes das grandes potências econômicas ocidentais, a exemplo de Estados Unidos, Grã-Bretanha, França... Aqui, as características biológicas, digamos, não-ocidentais marcam sua presença de forma impactante.
Em diferentes modalidades, assistimos a consideráveis vitórias magistrais, obtidas, em grande parte, graças ao talento de atletas Negr@s. A partir da observação desse “detalhe”, vinham-me ao espírito perguntas do tipo:
- A que se deve a presença tão forte de Negr@s nesses países ocidentais? A um suposto movimento migratório espontâneo, como uma jornalista européia tentava (em vão, claro!) me convencer, pretendendo passar um borracha em nossa memória histórica de séculos de colonialismo, ainda por superar?
- Se tal presença maciça de Negr@s ocorre na esfera esportiva, será que isso também se dá, na devida proporção demográfica, na escala político-administrativa?
- Em que medida essa ocorrência tem a ver com o recurso ao famigerado “brain drain” (drenagem de cérebros), por força do qual as potências do G-7 retiram dos países do chamado Terceiro Mundo talentosos profissionais (nos distintos ramos) para servirem aos interesses dessas potências econômicas?
- O quê se passa na cabeça desses atletas Negr@s, quando ousam refazer o percurso dos seus ancestrais africanos?



João Pessoa, 4 de Setembro de 2004.

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