A PARTICIPAÇÃO D@S NEGR@S NAS OLIMPÍADAS
Alder Júlio Ferreira Calado
Durante a última metade de agosto
próximo findo, tivemos a oportunidade de acompanhar a participação de atletas
do mundo inteiro nas Olimpíadas 2004, em Atenas. À parte lances de “patriotada”
de certos atletas e comentaristas, e outras cenas menos edificantes, os Jogos
Olímpicos continuam a fascinar como espaço-tempo de criatividade, de superação
de limites e, sobretudo, de muito aprendizado, dada a enorme variedade de
aspectos (sociais, econômicos, políticos, culturais), que eles suscitam, para
além de seu espectro estritamente lúdico.
Aqui tomemos como referência, por
exemplo, o aspecto inter-étnico. Tendo em vista a enorme diversidade étnica d@s
atletas, quê olhar podemos lançar por sobre o desempenho d@s atletas Negr@s e a
repercussão sobre seus respectivos países?
Ao acompanharmos as partidas de
diferentes modalidades de esportes olímpicos, podemos apreciar uma série de
detalhes ricos em significado: do tamanho das delegações aos países por elas
representados; da relação entre investimento e resultados aos critérios de
julgamento do desempenho d@s atletas; das condições de treinamento asseguradas
ao conjunto d@s atletas ao resultado por eles/elas obtidos... Fixemo-nos, de
passagem, num deles: a participação d@s Negr@s nos jogos olímpicos.
Com
naturalidade, acompanhamos o desempenho surpreendente de não poucos atletas
provenientes de boa parte dos países africanos. Quantas e quantos se têm
destacado, nestes e em jogos anteriores! O que nos soa intrigante, porém, é a
constatação de um número significativo de Negr@s a defenderem países de
população majoritariamente branca.
Acompanhamos jogos d@s atletas
chineses, japoneses, etc., e nada temos a estranhar quanto ao biótipo dos seus
representantes. Espelham, também sob este ponto de vista, as características
biológicas de seus respectivos povos. Não é, porém, o caso de um número
considerável de atlet@s representantes das grandes potências econômicas
ocidentais, a exemplo de Estados Unidos, Grã-Bretanha, França... Aqui, as
características biológicas, digamos, não-ocidentais marcam sua presença de
forma impactante.
Em diferentes modalidades, assistimos a consideráveis
vitórias magistrais, obtidas, em grande parte, graças ao talento de atletas
Negr@s. A partir da observação desse “detalhe”, vinham-me ao espírito perguntas
do tipo:
-
A que se deve a presença tão forte de Negr@s nesses países ocidentais? A um
suposto movimento migratório espontâneo, como uma jornalista européia tentava
(em vão, claro!) me convencer, pretendendo passar um borracha em nossa memória
histórica de séculos de colonialismo, ainda por superar?
-
Se tal presença maciça de Negr@s ocorre na esfera esportiva, será que isso também
se dá, na devida proporção demográfica, na escala político-administrativa?
-
Em que medida essa ocorrência tem a ver com o recurso ao famigerado “brain
drain” (drenagem de cérebros), por força do qual as potências do G-7 retiram
dos países do chamado Terceiro Mundo talentosos profissionais (nos distintos
ramos) para servirem aos interesses dessas potências econômicas?
-
O quê se passa na cabeça desses atletas Negr@s, quando ousam refazer o percurso
dos seus ancestrais africanos?
João Pessoa, 4 de Setembro de 2004.
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