sexta-feira, 1 de junho de 2018

GREGÓRIO BEZERRA, UM HOMEM DO POVO (III)


GREGÓRIO BEZERRA, UM HOMEM DO POVO (III)

Alder Júlio Ferreira Calado

            Libertado, em 1922, de sua primeira experiência de prisão, Gregório decide seguir a carreira militar, iniciada em Recife, depois no Rio e em outros Estados da Federação. Por onde passou, deixou sua marca de profissional aplicado, semeou companheirismo e admiração pelo seu senso de justiça, solidariedade e coragem.
            Durante sua temporada no Rio, enfrentou muitas situações embaraçosas, que enfrentou com altivez e determinação. Uma delas resultou em sua firme decisão de alfabetizar-se. Já com cerca de 23 anos, não mais suportava as humilhações por viver dependente de alguém, sempre que precisava enviar uma carta. Não raro, encontrava má vontade ou desculpas não convincentes: - “Olha aqui, Gregório, quem pede, espera.” Tomou isso como a gota d´água para uma firme decisão: “Foi uma grande lição para mim, pois só assim tomei vergonha na cara e resolvi alfabetizar-me.”
Tropeçando nas frases, pedindo ajuda, lendo e relendo cartilhas até decorar (“Numa semana, li e reli a cartilha muitas vezes (...) A seguir, comprei o Primeiro Livro de Leitura de Felizberto de Carvalho, que também li e reli muitas vezes”), Gregório consegue, finalmente, alfabetizar-se e ir além. Motivado pela perspectiva de matricular-se, em tempo hábil (limite de idade: 25 anos...) na Escola de Sargentos de Infantaria, não hesita em contratar professores particulares, pagando a metade seu salário. Mas, valeu a pena: em breve seria sargento.
            Passou a se interessar por leituras de jornais. Us deles – A Nação, um jornal de massas do PCB - ele chegava a ler “de cabo a rabo”, às escondidas, no Quartel. Pena que esse jornal não tardaria a ser fechado pela repressão.
            Transferido para o Nordeste, e contraindo casamento, passa a acompanhar com mais interesse as atividades do PCB, ao qual, apesar das restrições ligadas à sua condição de sargento, vem a se filiar, em 1930. Colaborava no que estava ao seu alcance. O Partido exigiu que restringisse sua atuação ao setor militar. Restrição não cumprida, pois chegou organizar uma célula e um círculo socialista de leitura e debate.
No levante da Aliança Liberal, conhecida como a “Revolução de 30”, teve vontade de participar como revolucionário, mas preferiu respeitar a posição do PCB: “Se o PC tivesse apoiado a revolução liberal, eu teria sido um revolucionário ardoroso, em 1930”. Dois anos depois, estouraria o “Movimento Constitucionalista”, do qual Gregório participaria ativamente, como militar, nas marchas por Minas Gerais em direção a São Paulo (combatendo do lado das forças governamentais).
Sempre que solicitado por camaradas para ajudar financeiramente ou na segurança discreta às mobilizações realizadas contra a agressão do movimento integralista, Gregório não se negava. Com o ascenso do Integralismo e o crescimenento dos embates (“os integralistas proliferavam desenfreadamente, apoiados pela burguesia, pelo clero e pelo que havia de mais reacionário, que era a burguesia rural.”), tornou-se mais exposto, passando a ser vigiado.
Por outro lado, por todo o país, crescia a resistência liderada pela ANL, a Aliança Nacional Libertadora, uma ampla frente de massas, de cujo programa de caráter nacionalista constavam bandeiras como confiscação das terras dos latifundiários, sua nacionalização e distribuição gratuita a todos os camponeses sem terra ou com pouca terra e a todos que nelas quisessem trabalhar, nacionalização das empresas estrangeiras, dos bancos, das minas e das quedas d´água, e o cancelamento de todas as dívidas externas.”

João Pessoa, 3 de Junho de 2004 

(Para o Jornal Abibiman, de Arcoverde - PE)

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