GREGÓRIO BEZERRA, UM HOMEM DO POVO (III)
Alder Júlio Ferreira
Calado
Libertado,
em 1922, de sua primeira experiência de prisão, Gregório decide seguir a
carreira militar, iniciada em Recife, depois no Rio e em outros Estados da
Federação. Por onde passou, deixou sua marca de profissional aplicado, semeou
companheirismo e admiração pelo seu senso de justiça, solidariedade e coragem.
Durante
sua temporada no Rio, enfrentou muitas situações embaraçosas, que enfrentou com
altivez e determinação. Uma delas resultou em sua firme decisão de
alfabetizar-se. Já com cerca de 23 anos, não mais suportava as humilhações por
viver dependente de alguém, sempre que precisava enviar uma carta. Não raro,
encontrava má vontade ou desculpas não convincentes: - “Olha aqui, Gregório,
quem pede, espera.” Tomou isso como a gota d´água para uma firme decisão: “Foi
uma grande lição para mim, pois só assim tomei vergonha na cara e resolvi
alfabetizar-me.”
Tropeçando nas
frases, pedindo ajuda, lendo e relendo cartilhas até decorar (“Numa semana, li
e reli a cartilha muitas vezes (...) A seguir, comprei o Primeiro Livro de Leitura de Felizberto de Carvalho, que também li
e reli muitas vezes”), Gregório consegue, finalmente, alfabetizar-se e ir além.
Motivado pela perspectiva de matricular-se, em tempo hábil (limite de idade: 25
anos...) na Escola de Sargentos de Infantaria, não hesita em contratar
professores particulares, pagando a metade seu salário. Mas, valeu a pena: em
breve seria sargento.
Passou
a se interessar por leituras de jornais. Us deles – A Nação, um jornal de massas do PCB - ele chegava a ler “de cabo a
rabo”, às escondidas, no Quartel. Pena que esse jornal não tardaria a ser
fechado pela repressão.
Transferido
para o Nordeste, e contraindo casamento, passa a acompanhar com mais interesse
as atividades do PCB, ao qual, apesar das restrições ligadas à sua condição de
sargento, vem a se filiar, em 1930. Colaborava no que estava ao seu alcance. O
Partido exigiu que restringisse sua atuação ao setor militar. Restrição não
cumprida, pois chegou organizar uma célula e um círculo socialista de leitura e
debate.
No levante da
Aliança Liberal, conhecida como a “Revolução de 30”, teve vontade de participar
como revolucionário, mas preferiu respeitar a posição do PCB: “Se o PC tivesse
apoiado a revolução liberal, eu teria sido um revolucionário ardoroso, em
1930”. Dois anos depois, estouraria o “Movimento Constitucionalista”, do qual
Gregório participaria ativamente, como militar, nas marchas por Minas Gerais em
direção a São Paulo (combatendo do lado das forças governamentais).
Sempre que
solicitado por camaradas para ajudar financeiramente ou na segurança discreta
às mobilizações realizadas contra a agressão do movimento integralista,
Gregório não se negava. Com o ascenso do Integralismo e o crescimenento dos
embates (“os integralistas proliferavam desenfreadamente, apoiados pela
burguesia, pelo clero e pelo que havia de mais reacionário, que era a burguesia
rural.”), tornou-se mais exposto, passando a ser vigiado.
Por outro lado,
por todo o país, crescia a resistência liderada pela ANL, a Aliança Nacional Libertadora,
uma ampla frente de massas, de cujo programa de caráter nacionalista constavam bandeiras
como confiscação das terras dos latifundiários, sua nacionalização e distribuição
gratuita a todos os camponeses sem terra ou com pouca terra e a todos que nelas
quisessem trabalhar, nacionalização das empresas estrangeiras, dos bancos, das
minas e das quedas d´água, e o cancelamento de todas as dívidas externas.”
João Pessoa, 3 de Junho de 2004
(Para o Jornal Abibiman, de Arcoverde - PE)
Nenhum comentário:
Postar um comentário