O 8º ENCONTRO DAS
COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE:
PRIMEIRAS
IMPRESSÕES
Alder Júlio Ferreira
Calado
Os periódicos Encontros Interclesiais vêm se firmando, na
trajetória das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), como o fórum de maior
referência, em sua caminhada histórica, termômetro privilegiado de sua
vitalidade. De 1975 para cá, oito encontros já foram realizados: os dois
primeiros de Vitória – ES (1975 e 1976); o de João Pessoa – PB (1978); o de
Itaici – SP (1981); o de Canindé – CE (1983); o de Trindade – GO (1986); o de
Duque de Caxias – RJ (1989) e o mais recente, em Santa Maria – RS (1992).
É justamente sobre este último que, convidado, trato de
tecer algumas considerações, sem outra pretensão que não seja a de externar,
ainda ao calor do referido evento, minha primeira impressão sobre o 8º Encontro
Interclesial das CEBs, aqui privilegiando aspectos sócio-políticos, buscando
assim participar, de algum modo, dos debates que se seguirão.
Num
quadro sócio-eclesial em que a correlação de forças se apresenta visivelmente
favorável às forças conservadoras, dentro e fora da Igreja Católica, parece até
temerário falar-se em ganho, a propósito do saldo desse 8º Encontro da CEBs. E,
no entanto, não encontro melhor termo para designar o que senti predominar como
saldo, nesse evento de Santa Maria. Para fundamentar essa primeira avaliação,
creio oportuno iniciar por uma breve retrospectiva da escalada das forças
conservadoras contra a caminhada da Igreja na Base, para contar, em
seguida, as impressões mais fortes que trago do 8º Intereclesial.
É
bem verdade que os tempos já não são os mesmos. Como se sabe, muita coisa mudou
desde a primeira formação das primeiras CEBs, nos anos ’60. Vivemos outra
conjuntura internacional e nacional. Também ao interno da Igreja Católica e de
outras Igrejas Cristãs, o contexto modificou-se.
No
plano internacional, diferentemente daquela época de relativa euforia
revolucionária (ao calor da Revolução Cubana, da trajetória de Che Guevara, dos
acontecimentos do Maio de 1968…), hoje se enfrenta o avanço do mais descarado
liberalismo (e suas terríveis conseqüências), fortalecido – temporariamente,
pelo menos – pelo desabamento dos regimes stalinistas do Leste europeu, na
medida em que o Imperialismo vê-se praticamente livre de concorrência,
primeiramente no cenário político-militar, cuja hegemonia ficou inteiramente
exposta no episódio da Guerra do Golfo.
Bem
outra também é a conjuntura nacional relativamente distanciada da ação de toda
a efervescência política característica daquele período de intensa mobilização
das Ligas Camponesas, do MCP, da UNE, do MEB, dos “anos rebeldes” e do tempo da
resistência à ditadura militar. A respeito da recente mobilização pelo impeachment
do presidente Collor, que envolve parcelas significativas da sociedade civil
(Imprensa, Congresso Nacional, CPI, os Caras-pintadas, a OAB, etc.),
relembrando inclusive os tempos das Diretas-já, parece, contudo, ainda
predominar um clima de apatia e desencanto com o “mundo político”, agravado
pelo quadro de crescente penúria a que as elites têm submetido a enorme maioria
da população, atingindo inclusive o que se convencionou chamar de “classe
média” brasileira.
Tão
ou ainda mais significativo de que as mudanças operadas em outros segmentos da
sociedade civil foram as produzidas no interior da Igreja Católica,
principalmente a partir do pontificado do Papa João Paulo II. Na verdade, já no
final do período do pontificado de Paulo VI, alguns sinais nessa direção podiam
ser detectados, através do esforço de articulação dos setores eclesiásticos
reacionários, que não haviam assimilado as mudanças acenadas no Concílio
Vaticano II.
Essas
forças foram progressivamente ganhado espaço e apoio, sobretudo quando
articuladas, no plano internacional, a organização imperialista. Na América
Latina, por exemplo, importantes setores da Igreja Católica, ao declararem, por
ocasião da Conferência de Medellín (1968), sua opção pelos pobres, assustaram
poderosos segmentos reacionários do Continente, inconformados com a repentina
mudança que estava em curso: a tradicional aliada, a Igreja Católica – ou mais
precisamente, uma parte dela – estava mudando de lugar e de aliado…
O
Relatório Rockefeller, que data de 1969, já alertava para os riscos dessa
mudança: a igreja estava se transformando em uma força ameaçadora, inclusive
“revolucionária se necessário”. Estudos e pesquisas ulteriores, ligados ou não
ao Departamento de Estado dos Estados Unidos ou órgãos afins, iam confirmando
essa tendência ou mudança de rumo, durante os anos ’70. Um dos analistas de
mudança de papel da Igreja Católica é o cientista político Thomas Bruneau, para
quem, embora o interesse da Igreja nesse processo fosse o de continuar a
exercer sua tradicional influência, o certo é que “As declarações da Igreja
Brasileira sugerem que ela mudou enormemente durante as duas últimas décadas, e
essa mudança afeta a maior parte da hierarquia do clero”, e acha que é difícil
determinar até onde a Igreja iria, se ficasse completamente livre
(“unrestrained”), chegando mesmo a advertir que “na ausência de poder”, ela
poder tornar-se mesmo revolucionária[1].
A
pavorosa militarização dos Estado latino-americanos, na década de 70, sobretudo
no Cone Sul, palco do famigerado rumor de botas (Eder Sader), que se
intensificaria pelo Continente, para além da referida década, não se fez sem
participação direta ou indireta do Imperialismo, ainda que não tenha sido
suficiente para impedir o levante popular que livraria a Nicarágua da
sanguinária ditadura somozista que, a exemplo de tantas outras, contara sempre
com o apoio dos Estados Unidos.
Artífice
da Revolução Nicaragüense, o Movimento Sandinista desencadearia, desde de cedo,
poderosa reação da forças imperialistas, em grande parte porque recaía sobre os
revolucionários cristãos a responsabilidade maior dessa reviravolta,
confirmando assim prognóstico relativo à mudança de papel da Igreja Católica,
ou mais precisamente, de um dos seus setores – aquele ligado à Teologia da
Libertação, expressão teórica mais elaborada de toda uma rede de setores
pastorais, movimentos e serviços eclesiais, e principalmente a CEBs,
articulados aos movimentos populares, comprometidos não só com o “novo jeito do
ser Igreja”, mas também com a proposta popular de construção de uma nova
sociedade, de caráter anticapitalista, democrático, pluralista e aberta aos
valores da modernidade (justiça social, direitos humanos, liberdades políticas,
respeito às ciências sociais e outras, construções de novas relações de gênero,
de raça, de nação, ecologia, articulação entre democracia representativa
direta, etc.).
É
sobretudo esse novo jeito de fazer política, fundada numa concepção nova de
prática democrática, que tem provocado, dentro e fora da Igreja Católica, uma
reação em cadeia por parte das forças conservadoras articuladas a níveis internacional,
nacional e local. Articulação nem sempre clara, diga-se de passagem, quanto ao
nível da participação de alta burguesia da Igreja Católica. São, contudo,
tantas as coincidências, que atribuí-las ao mero acaso seria, de certa forma,
atentar contra a inteligência.
Tomar, com
efeito, na conta de simples obra do acaso a escalada de medidas preventivas e
punitivas adotadas pelas forças conservadoras (Relatório Rockefeller,
Documentos de Santa Fé I e Santa Fé II, Documento Militar Secreto dos Exércitos
Americanos contra a Teologia da Libertação) e forças eclesiais afins, não
parece um procedimento que enalteça o senso crítico, principalmente quando se
teve o trabalho de fazer um estudo mais detido[2].
Ainda
que não se trate aqui de reconstituir a estratégia conservadora montada e
aplicada contra a Igreja na Base, parece, todavia, oportuno mencionar
ligeiramente várias medidas integrantes dessa estratégia:
·
Punição de figuras exponenciais da Teologia da
Libertação;
·
Aplicação de critérios conservadores na política
de nomeação e transferência de bispos, arcebispos e cardeais;
·
Tutelamento das conferências episcopais (órgãos
de representação dos bispos, a nível nacional);
·
Intervenção na CLAR (Confederação
Latino-americana de Religiosos e Religiosa);
·
Divisão autoritária da Arquidiocese de São
Paulo, contra a vontade do arcebispo e quase todos os auxiliares;
·
Advertência a alguns bispos que se mostraram
críticos em relação às medidas autoritárias tomadas por Roma;
·
Fechamento do ITER (Instituto de Teologia do
Recife) e do SERENE-II (Seminário do Regional Nordeste II, também no Recife);
·
Vigilância doutrinária redobrada e controle
cerrado dos institutos católicos de teologia;
·
Entusiástico apoio a movimentos eclesiásticos de
caráter conservados (Opus Dei, Comusione e Liberasione, Renovação
Carismática…);
·
Intrigante silêncio frente a constantes
assassinatos de agentes de pastoral (inclusive padres e religiosas)
comprometidos com as lutas dos oprimidos, na América Latina;
·
Distanciamento ou desconfiança em relação aos
movimentos da sociedade civil que reclamam autonomia da Igreja…
Posto
que a aplicação dessas e doutras medidas já conta um certo tempo, boa parte
delas datando dos primeiros anos do pontificado de João Paulo II, não devem ser
subestimadas suas conseqüências danosas à caminhada da Igreja na Base, a
despeito da de toda a resistência da qual esta última tem dado prova.
É, por
conseguinte, dentro desse contexto adverso à caminhada das CEBs e forças
congêneres, que ouso falar em ganhos nesse 8º Interclesial de CEBs.
Focalizarei, a seguir, alguns fatos em que me apóio, para tal avaliação.
Um
primeiro ponto a considerar: em comparação aos encontros precedentes, e tendo
sempre em vista a atual correlação de forças, não deixam de ser motivo de
desapontamento alguns números do 8º Interclesial. Com efeito, se as
estatísticas são mesmo algo a ser levado em consta, cumpre observar que os
2.334 delegados e delegadas desse Encontro corresponde a 30% a mais do que os
1.800 participantes do 7º Encontro, realizado em Duque de Caxias. Com efeito,
se a este compareceram 85 bispos, no 8º Encontro eles eram 98, o que não quer
dizer necessariamente que estejam todos comprometidos com a caminhada das CEBs.
Em todo caso, seria pelo menos estranho que uma experiência moribunda
despertasse tanto interesse…
Mas, a
qualidade do 8º Interclesial não se atesta apenas – nem principalmente – por
dados estatísticos. A densidade do Encontro manifesta-se através de múltiplos
aspectos. Por exemplo, mediante a sensação de viver-se de concílio ecumênico.
Daí o entusiasmo com que Frei Betto saudava o 8º Interclesial: “algo como um
concílio da Igreja dos pobres”[3].
Lá estavam delegados e delegadas das CEBs de todo o Brasil – leigos religiosos,
padres, bispos, pastoras, pastores, membros de diversas Igrejas Evangélicas,
Pajés, País-de-Santo, Mãe-de-Santo, representantes vindos de vários países da
América Latina, África, da Ásia, da Europa…
Irmanados
num ambiente de rara experiência de participação e comunhão, de caráter
ecumênico e internacional, os cerca de 2.800 participantes (além dos delegados,
havia também assessores e assessoras, visitantes, etc.) mostrava-se realmente
empenhados na construção da unidade dos cristãos, e da sólida consciência
latino-americanicidade. Isso ficou patente, por exemplo, na ocasião em que o
representante do Haiti, chamado a dar uma palavrinha sobre a delicada situação
da nascente democracia violentada de seu país, lembrava a importância, lá e cá
(estávamos a poucos dias da votação da primeira etapa do processo de impeachment),
da mobilização popular da Democracia. A Democracia que levava o povo aqui a
exigir a saída do presidente corrupto era a mesma em razão da qual o povo
haitiano se mobilizava… para exigir a volta do seu Presidente, o Pe. Aristides,
eleito num processo limpo, inatacável, mas pouco depois da posse violentamente
deposto. Apesar das declarações de apoio e solidariedade às vítimas do golpe
por parte dos países do Primeiro Mundo – Estados Unidos à frente –, o que se vê
é uma descarada acomodação ante as forças do golpe. O próprio Vaticano –
queixava-se o jovem haitiano – foi dos primeiros Estados a manter relações
diplomáticas normais com os golpistas. Quanta hipocrisia!
Apesar
de, e para além desses gestos mesquinhos e das contrariedades da conjuntura, o
que predominou mesmo nos participantes do 8º Interclesial foi o sentimento de
esperança. A partir inclusive do tema: “Povo de Deus renascendo das culturas
oprimidas”. Tema que vinha sendo trabalhado desde o encerramento do Encontro
precedente, como de costume.
Dentre
as culturas representadas no Encontro, especial atenção receberam: a) os
Índios; b) os Negros; c) as Mulheres; d) os Trabalhadores; e) os Migrantes. Com
o objetivo de viabilizar uma melhor participação os debates relativos a cada
uma dessas realidades, os cerca de 2.800 participantes foram distribuídos em
cinco grandes “blocos”, cada um dos quais encarregava-se de aprofundar sua
realidade específica. Para tanto, os organizadores do Encontro haviam
providenciado, junto a instituições educacionais de Santa Maria, espaços
adequados, com a necessária infraestrutura.
Ainda
que distribuindo-se os participantes em cinco grandes “blocos”, não seria nada
fácil trabalhar com quase 500 pessoas, razão pela qual cada “bloco” foi
subdividido em algumas dezenas de grupos, aos quais eram propostas algumas
questões para debate. Técnicas especiais de trabalho foram aplicadas, sempre
visando à melhoria qualitativa e quantitativa da participação. Outrossim, para
que cada participante pudesse estar a par do que se discutia nos outros blocos,
cuidou-se de assegurar, além das plenárias dos grupos e das grandes plenárias
dos blocos, a produção de um boletim sintetizando os trabalhos do dia.
Mas, e
daí? Quais os pontos do 8º Interclesial a serem destacados como ganhos? Creio
não ser demais sublinhar que classifico como ganhos os pontos a seguir
indicados, dentro de circunstâncias concretas, dentro de uma correlação de
forças acentuadamente adversa. Assim sendo, começo dizendo que o respeito ao
diferente, enquanto diferente, foi, a meu ver, a principal reivindicação feita
pelos blocos de Índios e Negros. Reivindicação, aliás, de enorme impacto sobre
o comportamento principalmente da alta hierarquia, sempre tão ciosa da “pureza”
da doutrina, da qual se acha única intérprete legítima, longe ainda de ser da
conta de que, antes mesmo de se tratar de uma questão de fé, sua atitude
demonstra um obstinado apego, não tanto aos valores da Fé cristã, mas a uma
posição cultural ainda hegemônica, cujo caráter eurocêntrico tem sido causa
freqüente de atentados aos valores essenciais do Cristianismo do qual pretende
ser intérprete e guardiã.
Exemplo
eloqüente dessa postura excludente ocorreu no próprio 8º Encontro
Intereclesial. Ao serem convidados ao palco da quadra os chefes religiosos
presentes ao encontro, provavelmente em nome da mesma “pureza” doutrinária,
simplesmente foram deixados de fora os Pajés e Pais-de-Santo. A resposta não
tardou. Sob os aplausos da maioria dos participantes, um Pajé e um Pai-de-Santo
protestaram com veemência e um tanto escandalizados com o que viram, mas também
visivelmente confortados com os efusivos gestos de solidariedade recebidos dos
participantes do Encontro.
Foi,
contudo, do bloco das Mulheres que brotaram os reclames mais contundentes por
mudanças das atuais relações de poder, predominantes dentro e fora da Igreja
Católica. Até hoje excluídas das instâncias de decisão dentro e fora da Igreja
e nos setores mais diversos da sociedade civil, as Mulheres foram bastantes
claras: “nós mulheres afirmamos nosso direito de participar de todos os níveis
de decisão e poder (…) Nosso empenho deve ser, mais ainda, pela conquista não
apenas das assembléias e tribunais, mas também dos altares e dos púlpitos. É
fazendo que se aprende. O que não está oficializado se oficializa na prática”.
Embora
se trate mais propriamente de bandeira de luta, reivindicações desse tipo,
dificilmente concebíveis há décadas atrás, suscitam algumas considerações.
Aos
trancos e barrancos, a categoria “cultura” vai irrompendo, com toda a sua carga
explosiva, no interior de estruturas secularmente cristalizadas. Há tanto tempo
relegadas a um plano secundário, questões referentes a relações de sexo, de
raça, de região/nação, ecologia e outras ganham espaço cada vez maior, nos
movimentos e organizações da sociedade civil, a que não conseguem escapar os
recônditos meios eclesiásticos.
Com
efeito, como preservar-se indene aos avanços que as organizações femininas vão
conquistando, um pouco por toda parte? Como, no caso da Igreja, continuar
mantendo pacificamente o sacro império patriarcal, quando as mulheres se dão
conta do seu papel de sustentação dos mais variados movimentos, associações
setores pastorais, numerosos serviços que vão da decisiva participação em
campanhas até a organização de festas e eventos? E, no entanto, quando se trata
de participação nas decisões (conforme dispunha o nº 808 do Documento de
Puebla), as mulheres percebem, indignadas, que estão excluídas desse processo.
“Quantas de nós vão participar das decisões lá na Conferência de São Domingos?”
– indagava, exaltada uma das participantes da plenária, acrescentando outras
perguntas do gênero, depois de lembrar vários exemplos de efetiva participação
das mulheres, na execução de tarefas dentro da Igreja.
De
modo semelhante, Índios e Negros põem na berlinda a hierarquia católica.
Resgatando, em perspectiva própria, os traços essenciais da história da
colonização, não hesitam em chamar à responsabilidade histórica aqueles que, em
nome do Cristianismo, foram cúmplices de verdadeiros massacres de Índios e
Negros, cujos sobreviventes foram reduzidos a séculos de escravidão, que
persiste, sob formas atualizadas, mas nem por isso menos eficazes. Também aqui,
salvo raras e honrosas exceções de ontem (Antonio de Montesinos, Bartolomeu de
Las Casas…) e de hoje (foi lembrado, por exemplo, o cuidado pastoral da
Arquidiocese de São Paulo com a formação de padres negros), a Igreja
institucional reproduz o racismo exposto pela sociedade civil. Sendo
reconhecidamente significativa a proporção de negros na população brasileira,
como é que ela está efetivamente representada no Congresso, nos tribunais, nos
ministérios, nos altos escalões da Forças Armadas e… na hierarquia das Igrejas?
No
caso específico da Igreja católica, o desafio maior reside no respeito aos valores
– principalmente os religiosos – das culturas indígenas e afro-brasileiras, é
grande a tentação de achegar-se a esses povos, com perspectiva meramente
integracionista, longe de uma atitude de inculturação da Fé. Continua forte
demais o apego à cultura ocidental, transformada, através dos séculos de
dominação histórica, em modelo único de vivência da Fé Cristã. Seja como for,
algo de novo começa a se por em marcha: está em curso – queiramos ou não – um
processo de desocidentalização, em nosso Continente… E, nesse processo, o
ímpeto subversivo da categoria “cultura”, como lembrava Clodovis Boff, numa de
suas intervenções, durante o 8º Encontro, não vem substituir, mas enriquecer e
completar a categoria “política”, que vem sendo trabalhada há mais tempo.
[1] Ver por exemplo, Thomas BRUNEAU. The
Political Transformation of the Brazilian Catholic Church:
Nova York, 1974 (Cambridge University Press, 1974, pp. 231-243).
[2] Ver por exemplo, a secção III.5 de
nossa tese Eglise at politque au Brésil: lê role social et politique dês
communautés ecclesiales de base brésiliennes (notamment dans le Nord-Est), eu
cours des annés ’80. Paris, Université de Paris VIII – Vincennes, à Saint
Denis, 1991, pp. 245-337.
[3] Frei Betto. “O concílio dos pobres”,
in: A Razão. Repórter, Santa Maria, 5-6 de setembro de 1992, p. 2.
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