Nosso agir se acha constantemente desafiado pelos nossos limites humanos, em contínua tensão com nossas potencialidades. Seres finitos, inacabados, e, ao mesmo tempo, vocacionados a nos completarmos enquanto humanos, estamos continuamente sujeitos a deslizes éticos, razão da necessidade de maior autovigilância, tendo em vista os apelos que sentimos em direção a um processo menos imperfeito de humanização.
Nossos limites se apresentam mais vulneráveis em contextos especiais, como o que nos envolve em virtude, por exemplo, dos embates político-eleitorais. Nossas paixões aquí se acendem sobremaneira. E eis-nos, não raro, a cometer sucessivos deslizes, inclusive no exercício de análise, de modos diversos:
– ora omitindo ou negando valores nos adversários;
– ora carregando nas tintas positivamente em relação aos nossos candidatos, omitindo seus limites;
– ora ampliando desproporcionalmente os defeitos alheios, ao tempo em que passamos ao largo em relação aos dos nossos candidatos;
– ora atrevendo-nos a extrair de premissas dos adversários conclusões mais amplas do que nos permitem as mesmas premissas, ao tempo em que fazemos o inverso, quando se trada dos nossos; e assim por diante.
– ora carregando nas tintas positivamente em relação aos nossos candidatos, omitindo seus limites;
– ora ampliando desproporcionalmente os defeitos alheios, ao tempo em que passamos ao largo em relação aos dos nossos candidatos;
– ora atrevendo-nos a extrair de premissas dos adversários conclusões mais amplas do que nos permitem as mesmas premissas, ao tempo em que fazemos o inverso, quando se trada dos nossos; e assim por diante.
Tal situação se complica sobremaneira, quando os/as analistas gozam de especial referencia no plano ético, uma vez que bem maior é seu poder de influência no referido processo. Nossa pergunta é: será que não nos é possível aprimorar nossa autovigilância ético-política, em todos os tempos, mas especialmente nos contextos mencionados?
Com o propósito de contribuir para realimentar ese debate, permito-me levantar alquns questionamentos, em busca de balizamento ético de nossas análises:
– No exercício de apreciação crítica das situações sob análise, será que estamos atentos a utilizar, com o desejável rigor ético-político, a mesma “régua” para as distintas partes em embate eleitoral?
– Como costumamos fazer – até excessivamente! – em relação às forças a que nos aliamos, será que, na apreciação crítica das forças adversas, tratamos de ver o conjunto de suas propostas programáticas, ou espertamente pinçamos os pontos que nos interessam à crítica contundente, omitindo às vezes pontos essenciais das propostas adversárias, do que resulta, não raro, a completa desfiguração da essência da proposta em exame?
– Será que muitos dos vícios apontados, a justo título, e criticados nas forças adversárias não são também compartilhados, em grande parte, pelas forças que apoiamos, e que espertamente omitimos, ignoramos ou negamos?
– Será que nos sentimos verdadeiramente livres para analisar críticamente nossos aliados, se e quando direta ou indiretamente deles recebemos alguma forma de benefício? Nessa condição, teríamos a melhor oportunidade de um pronunciamento ético, disposto a reconhecer acertos, sem omitir nem vícios vícios apresentados?
– Até que ponto uma convivência orgánica e por demais próxima com seus representantes nos permitiría o mínimo de distanciamento necessário para o livre e responsável exercício da crítica, da denuncia profética, quando é o caso?
– Será que, pondo-nos tão íntimos dos representantes das forças que apoiamos, não corremos o risco de um envolvimento afetivo eticamente comprometedor, a ponto de nos tornamos mais fiéis aos amigos do que à causa que abraçamos, mais “amigos de Platão do que de bons critérios de discernimento, parafraseando o conhecido dito “Λατρεύω Πλάτωνα, αλήθεια, περισσότερο” (“Amicus Plato sed magis amiga veritas”):?
– Onde mesmo se faz mais fecunda e necessária a contribuição de intelectuais de reconhecida referência: desgastando-se à toa em intervenções temerárias, suscetíveis de sucessivos deslizes e contradições (até em relação a escritos e análises recentes) ou seguir contribuindo com sua capacidade ética de problematização e chamamento à reinvenção, em busca, não de um novo Governo ou de um novo Estado, mas de uma nova sociedade, alternativa à barbarie do Capitalismo?
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