quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Quando eu ia ela voltava, quando eu voltava ela ia

Um festival no festival: assim é me soa essa sucessão de gêneros, com ricas imagens poéticas, a desfilar por um festival de cantadores e repentistas.
No caso deste gênero, o desafio dos poetas e repentistas é articular, sempre de forma imaginativa, o sentido dos versos, mantendo sua respectiva forma e sem perder a beleza da construção de cada verso.
Aqui tem lugar o exercício da arte dos trocadilhos.
(…)
Com uma tal de Maristela
Eu arrumei um xodó
Entrei bebo no forró
Pra dançar bebo com ela
Me agarrei no corpo dela
Quando rodava eu pendia
Se eu pensava que caía
E a negra me segurava
Quando eu ela voltava
Quando eu voltava ela ia
(…)
Sonho que não vale nada
Que nunca realizei
Sonhei com a namorada
Acordei, ´stava bahada
Na cama com água fria
E eu pensava que havia
Acordei não tinha nada
E eu pensando que havia
Quando eu ia ela voltava
Quando eu voltava ela ia
Eu saí de madrugada
Pra cortar capim de planta
Topei uma salamanta
De travessa na estrada
Eu lhe dei uma pancada
Pra ver sela não corria
Mas quando a vara batia
Era um bote que ela dava
Quando eu ia ela voltava
Quando eu voltava ela ia
(…)
Sempre a sorte vem e se vinga
Nada vale a vida nossa
Gastei muito tempo na roça
No serrote e na caatinga
Mas se avistava uma vinga
De melão ou melancia
Tirava a folha e comia
De noite o ladrão roubava
Quando eu vinha ela voltava
Quando eu voltava ela ia
(…)
Esse gênero apresenta uma estrutura de estrofes formadas de dez versos setessilábicos. Quanto à rima, esta reedita o já conhecido padrão ABBAACCDDC.
In: Florilégio de estrofes da poesia sertaneja (João Pessoa: Edições Buscas, 2009)

Nenhum comentário:

Postar um comentário