Como de hábito, deixemos para depois as considerações em torno da forma da canção. Cabe-nos, por enquanto, sublinhar a beleza da composição. A sensibilidade do autor (ou autores, já que nos escapou o dado relativo à autoria) aparece a olhos vistos. As imagens são muito felizes!
Sem maior esforço interpretativo, eis que nos aparece num quadro poético uma paisagem rústica de uma extraordinária beleza. Temos diante dos olhos a natureza em movimento: local apropriado, animais-ambiente, inclusive a contemplar os ovinos “De pedra em pedra saltando”…
Na estrofe seguinte, sublinha-se mais uma cena sertaneja, impregnada da ambiência característica: o “quebrar da barra”, o coral da passarada, a “temperar” a invasão do milharal pelos pássaros, a romperem qualquer norma privatista
Outros belos postais sertanejos vemos pintados nas estrofes seguintes: ora dando conta da diversidade de animais em movimento, ora a destacar cenas pitorescas do Sertão, como a do uso do pilão e as enfatizando os pratos saborosos da cozinha sertaneja como um cuscus soltando cheiro e um tacho cheio de queijo…
No topo da serrania
Salta a onça, o gato mia
O macaco é o vigia
Lá no alto do coqueiro
A cabra, o bode, o carneiro
De pedra em pedra saltando
Eu de fora admirando
Cantando um quadrão mineiro
Salta a onça, o gato mia
O macaco é o vigia
Lá no alto do coqueiro
A cabra, o bode, o carneiro
De pedra em pedra saltando
Eu de fora admirando
Cantando um quadrão mineiro
Quando a barra vem quebrando
A brisa mansa soprando
A passarada cantando
Nos galhos do juazeiro
O cação voa maneiro
Pra comer milho na roça
Pensa que é dono e se apossa
E eu canto em quadrão mineiro
A brisa mansa soprando
A passarada cantando
Nos galhos do juazeiro
O cação voa maneiro
Pra comer milho na roça
Pensa que é dono e se apossa
E eu canto em quadrão mineiro
(…)
Um cão de caça acuado
Um cavalo estropiado
Um touro velho, cansado
Deitado lá no terreiro
Um bode pai de chiqueiro
O dono dando ração
São retratos do sertão
Que eu canto em quadrão mineiro
Um cavalo estropiado
Um touro velho, cansado
Deitado lá no terreiro
Um bode pai de chiqueiro
O dono dando ração
São retratos do sertão
Que eu canto em quadrão mineiro
Um paiol de algodão
Um silo cheio de feijão
Um silo cheio de feijão
Uma negra num pilão
Pilando milho e tempero
Um cuscus soltando o cheiro
Um tacho cheio de queijo
São glórias do sertanejo
Que eu canto em quadrão mineiro
Pilando milho e tempero
Um cuscus soltando o cheiro
Um tacho cheio de queijo
São glórias do sertanejo
Que eu canto em quadrão mineiro
O quadrão mineiro compõe-se, como se percebe, de oito versos, cada um com sete sílabas, e apresenta um formato de rima à base do esquema AAABBCCB
In: Florilégio de estrofes da poesia sertaneja (João Pessoa: Edições Buscas, 2009)
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