Faltando poucas horas para mais uma eleição presidencial e para outros cargos, volto a sentir-me, como tantos e tantas, impactado com o dispêndio de energias, de trabalho, de tempo, de recursos materiais em função da eleição de “novos” gestores do Estado capitalista brasileiro. Sem contar circunstâncias de disputas fratricidas propiciadas por esses momentos, inclusive entre quem, até ontem, estava no mesmo barco…
Em 2006, socializei um texto com várias páginas de questionamentos sobre minha avaliação dos processos eleitorais, perguntando quem ganha e quem perde com o investimento desmedido nessas campanhas. Espero não repetir tais perguntas, nas linhas que seguem. Tampouco, delas não encontro motivo para abdicar.
Tendo em vista que, sempre de acordo com minha limitada avaliação, não percebo fatos novos intervenientes, a não ser a continuação dos mesmos graves vícios tornados rotina no cotidiano da vida social de nossa gente, volto a aduzir outras inquietações, destacando, desta feita, após cada consideração avaliativa de negatividade uma possível alternativa.
1. À parte conquistas pontuais positivas, que avanços societários substantivos temos logrado, graças ao maciço investimento em processos eleitorais, no quadro da democracia representativa? O que aconteceria se, em vez de gastarmos o melhor de nossas energias em processos cujos frutos já conhecemos, de antemão, cudássemos em PRIORIZAR ações e iniciativas INSTITUINTES ALTERNATIVAS, ainda que moleculares, à ordem vigente? Se tantos, tantas de nós já fazemos isto, em experiências comunitárias e populares, por que nos afastamos (um tanto esquizofrenicamente?) dessas práticas, quando nos pomos no campo da política convencional, rendendo-nos sem mais aos seus caprichos, em vez de seguir balizas que aprendemos a vivenciar nessas “correntezas subterrâneas” laicas ou eclesiais, tanto na sociedade quanto ao interno de setores de igrejas? O que nos faz abdicar do que, nos anos 80, chamávamos de “nova sociedade” (ver os lemas de Intereclesiais de então, por ex.), para apostarmos cegamente na busca de um “novo Estado”? Alegra-nos, a esse respeito, ouvir aquela teimosia (“nova sociedade”) da boca de um Francisco, bispo de Roma, ainda domingo passado…
2. Independentemente do perfil do candidato, da candidata, é sabido que as grandes demandas e urgências clamadas pela voz das ruas ou não podem ser atendidas, ou o são a conta-gotas, como de costume, pela natureza mesma do Estado, incapaz de assegurar a universalização das políticas sociais (moradia, educação, saúde, etc.).
Mais uma vez, aqui, acabamos seduzidos pelos apelos do “establishment”, fazendo ouvidos moucos ou tábula rasa dos critérios e práticas práticas características, apesar das limitações, nessas “correntezas subterrâneas” (não ao culto da personalidade ou ao “salvador da pátria”; aposta nos núcleos ou pequenas comunidades autônomas e interconectadas, tomada de decisões de baixo para cima; autofinanciamento a partir dos próprios tostões; alternância de cargos e funções, não permitindo que as mesmas pessoas e os mesmos grupos se eternizem em seus cargos e funções, mas, antes, permitindo a quem está na base vá cumprir atividades administrativas, e quem já aqui já esteve volte para a base; estilo simples de vida, etc., etc.
3. Quando aderimos a uma determinada proposta programática de uma força partidária convencional, será que estamos mesmo conscientes de que seguimos apostando em REMENDOS, e assim nos distanciando dos horizontes e das práticas que dizemos serem as nossas? E, assim, incapazes de responder razoavelmente às demandas da rua? O que sucederia se, em vez de seguirmos mergulhados no ilusório “atalho”, buscássemos exercitar o melhor de nossa criatividade transformadora em dezenas de experiências grávidas de alternatividade que nos rodeiam, apesar de nossa indiferença ou tímido envolvimento?
4. Por que já não somos capazes, como fomos, até certo ponto, em décadas passadas, de manter nossa crença na construção, em mutirão (a longo prazo, mas começando desde já!) em práticas que nos levem a superar o atual modo de produção, de consumo e de gestão de sociedade, inclusive em sua relação com a Mãe-Natureza?
5. Por que, em vez de seguirmos apostando no que “não dá certo”, quase sempre munidos de argumentos tão frágeis, não ousamos “pular fora da lógica capitalista” (Ivandro da Costa Sales) e seus sedutores atalhos?
6. Por que seguir apostando, eleição após eleição, na mudança do sistema por meio do acesso a uma de suas pilastras essenciais, o Estado (sendo a outra, o Mercado capitalista)? Que sentido continua fazendo apostar “no menos ruim”, em vez de ousar dar passos concretos em direção a caminhos que nos conduzam em direção a uma sociabilidade alternativa à tragédia capitalista?
7. Será que os COPIOSOS E CRESCENTES SINAIS DE CADUCIDADE emitidos, todos os dias, por toda a parte (não só no Brasil) do câncer do Capitalismo não são suficientes para ponderar nossas práticas e nossas apostas?
8. Em qualquer área de atividade (produção, serviços públicos, cultura, estrutura política, etc., etc), que tomemos como alvo de apreciação crítica, as manifestações são evidentes quanto à tendência à privatização do Estado e seus aparelhos. Nâo obstante tal constatação DIÁRIA E CRESCENTE, o que nos faz defender que uma ESTATIZAÇÃO dos bens e riquezas materiais e imateriais resulte efetivamente PÚBLICA? Por que limitar o nosso NÃO à privatização dos bens públicos apenas aos entes privados, admitindo e defendendo sua estatização?
9. Até que ponto nossa obsessão em seguir apostando no que “não dá certo”, em vez de contribuir para uma mudança humanizadora, não está objetivamente contribuindo MAIS para alimentar um processo que pouco ou nada contribui com a busca de uma humanização, numa relação respeitosa com o Planeta?
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