quinta-feira, 21 de julho de 2016

CEBs: desafios e perspectivas de enfrentamento

O XIII Intereclesial das CEBs, a realizar-se em Juazeiro do Norte, a partir de amanhã, 7/1/2014, e estendendo-se até 11/1/2014, se passa, pela primeira vez, após sombrias décadas de estratégias desmonte da “Igreja dos Pobres” (expressão tão cara do Papa João XXIII), promovidas sobretudo desde o pontificado do Papa João Paulo II, sob a implacável mão de ferro da Congregação da Doutrina da Fé, sob o controle do então Cardeal Ratzinger, eis que acontece num contexto eclesial, senão privilegiado, mas bem favorável aos seus protagonistas e aos seus principais eixos identitários. Uma rara oportunidade histórica de retomada mais a fundo das bases mais fecundas de seu projeto de profundas mudanças das estruturas da Igreja e da sociedade, na perspectiva do Reinado de Deus e de sua justiça.
Nas linhas que seguem, propomo-nos apenas assinalar, de passagem, dois pontos: um quanto ao que entendemos como alguns dos desafios dentre os mais embblemáticos enfrentados pelas CEBs; em seguida, levantar alguns questionamentos e possibilidades de enfrentamento exitoso (a curto, médio e longo prazos) dos desafios destacados.
I) Quanto a alguns graves desafios
1) Como enfrentar suas frágeis bases organizativas?
Salvo exceções inspiradas e frutuosas, expressivas parcelas dos grupos e pessoas que se reconhecem como CEBs não conseguem alcançar fortes laços orgânicos e organizativos, como fazendo parte de sua rotina, do seu dia-a-dia, especialmente quando se trata de relacionar-se com seus parceiros de outras regiões. Muito menos em relação a outros segmentos da Igreja na Base. Isto até se passa bem, no âmbito das instâncias de coordenação, mas será que basta? E o quê dizer em relação aos laços orgânicos com parceiros de outras igrejas e dos movimentos populares?
Muitas de nossas CEBs até cumprem bem atividades importantes, mas em geral circunscritas à sua área esoecpufuca de atuação, com poucas ou nulas conexões com outras CEBs e outros parceiros da Igreja na Base, seja no âmbito regional, seja nos planos nacional e internacional. Algo semelhante também se dá no seu agir social: laços muito frouxos com os movimentos e lutas sociais, sempre ressalvadas as exceções de reconhecida qualidade.
Aí parece refletirem-se, pelo menos, dois fatores: os efeitos deletérios do período de estratégias de desmonte da Igreja na Base (CEBs, TdL, CEBI, PJMP e outras “pastorais sociais”); e, por outro lado, a ampla e crescente vigência do modelo de organização paroquial, sobre o qual, já à altura dos anos 70, teólogos como José Comblin já alertavam, chamando a atenção ao fato de que dificilmente o modelo paroquial de organização favorece a ação missionária junto ao povo dos pobres e marginalizados, na perspectiva de sua organização e protagonismo. Como é sabido, salvo felizes exceções, a tendência mais forte é que as paróquias girem, primeiro, em torno do pároco, e também em torno do seu público interno. É claro que há casos – minoritários! – de paróquias ou de párocos fazendo seu o espírito de Aparecida, mas será que o modelo como tal favorece mesmo a recorrente proposta manifestada pelo Papa Francisco, de uma reforma “em saída missionária”? Nessa direção, o que mais nos ajuda: o espirito organizativo das primeiras comunidades cristãs ou o modelo Paróquia?
Há tantos outros aspectos organizativos a serem reavaliados, passando por pontos tais como: periodicidade dos encontros, apreciação crítica dos encaminhamentos deliberados em encontros precedentes, número proporcional de grupos e pessoas efetivamente comprometidos e empenhados nas tarefas cotidianas próprias de CEBs; discernimento quanto ao exercício de uma autonomia relativa, respeitosa da diversidade bem como do esforço de sinodalidade, nossas práticas de ecumenismo de base, prioridades temáticas trabalhadas nos encontros; tendência a enfrentar temas estritamente eclesiásticos; pouca ligação com os movimentos e as lutas populares. Sempre há as boas exceções, não nos esqueçamos!
2) Como encarar seu/nosso relativamente fraco poder de mobilização?
Uma pergunta dessas remete, não às boas exceções existentes, mas ao conjunto das CEBs em todo o país. Sobretudo nas últimas décadas, (também) graças às estratégias de desmonte da “Igreja na Base”, não tem sido algo frequente encontrarmos tanta gente das CEBs nas mobilizações populares. As próprias pastorais sociais, antes bastante animadas (também) por gente das CEBs, se ressentem dessa participação, haja vista, por exemplo, o que se tem passado com o Grito dos Excluídos, em várias partes do País. No plano estritamente intra-eclesial, são mais expressivas as tentativas, em romarias da terra e das águas, em celebrações do Natal. Mas, também isto não parece ser bem a regra, de modo a envolver uma expressiva maioria.
3) Como superar as debilidades na formação contínua de seus membros?
Sem deixar de reconhecer a importância e a gravidade dos dois primeiros desafios acima assinalados, consideramos este último como o mais relevante e urgente a ser priorizado! E também o que enfrenta mais dificuldades.
II) Que perspectivas se desenham para os próximos anos?
Aqui, vamos preferir acenar para alguns cenários possíveis, de forma interrogativa.
– Examinando de forma retrospectiva (final dos anos 70/ primeira metade dos anos 80), será que a dimensão organizativa das CEBs daquele período nada nos tem a inspirar, hoje?
– A que se deveu aquela abençoada onda de ascenso das CEBs e de outros segmentos da Igreja da Base? Será que não havia um grau maior de autonomia em relação às paróquias? E, em consequência, em relação também ao clero, ainda que isto também estivesse presente?
– A forte vinculação organizativa das CEBs à vida paroquial ajuda a superar ou favorece a tendência a uma clericalização, a que, em várias ocasiões, tem aludido o Papa Francisco?
– A dependência dos membros das CEBs à estrutura paroquial ajuda ou bloqueia o ímpeto missionário junto ao povo dos pobres, às “periferias existenciais”?
– Até que ponto a pouca ou tão frágil formação dos membros das CEBs tem contribuído para uma certa despolitização de parte expressiva dos mesmos?
– Até que ponto a ausência ou insuficiência de uma formação contínua dos membros das CEBs os tem induzido a uma certa posição pragmática e acrítica na/da vida política, restringindo-a apenas aos momentos eleitorais?
– Até que ponto a ausência ou insuficiência de formação integral dos membros das CEBs os tem limitado a exercitar a Cidadania apenas no âmbito das relações com o Estado, perdendo de vista as grandes potencialidades da Política, no exercicio da Cidadania do cotidiano, onde incidem importantes dimensões ético-políticas e de conversão? Apenas um exemplo ilustrativo: quando não se faz formação contínua, corre-se o risco de ignorar o enorme potencial de Cidadania, de potencialização da dimensão do Público, presente no serviço invisibilizado das parteiras, em exagerada atenção às disputas político-partidárias, terreno no qual cada vez a dimensão ético-política do Publico se torna cada vez mais minada…
– Em relação ao exercício da Cidadania face ao Estado, diante de sinais tão evidentes e frequentes, vamos seguir apostando no que não dá certo, isto é: investindo em velhas práticas partidárias de alianças com todo o mundo, confiando em eleger um/uma candidato/a que “salve a Pátria”, mesmo sabendo de suas tenras possibilidades de alterar a engrenagem da máquina estatal, ou, ainda pior, de, em vez de corrigir os descompassos da referida máquina, contribuir objetivamente para fortalecê-la?

– De que formação precisam os membros das CEBs? Uma formação que ajude a desenvolver o processo de humanização ou uma formação limitada a apenas uma ou outra dimensão? No empenho de examinar experiências que vêm dando certo (“Pelos frutos se conhecer a árvore”), por ocasião da III Semana Teológica Pe. José Comblin, dentre as atividades vivenciadas, constou uma Mesa Redonda, na qual foram partilhadas experiências de formação consideradas exitosas, dentre as quais a que se vivencia nas Escolas de Formação Missionária (Juazeiro – BA; Mogeiro – PB; Esperantina – PI; Floresta – PE; Barra – BA e Nazaré da Mata – PE). Não dá para tratar aqui e agora de sua proposta teórico-metodológica. Apenas assinalamos, de passagem, que uma das inquietações aí sublinhadas tem sido o compromisso de que quem por elas passe, delas não se afaste: mantenham-se seus “egressos” permanentemente a elas vinculados. Um atestado disto tivemos recentemente, em Santa Fé, no Santuário do Pe. Ibiapina (Solânea – PB): das cerca de seiscentas pessoas participantes de vários Estados do Nordeste, cruzaram-se três gerações de missionários e missionárias que passaram por essa experiência formativa. Seus depoimentos eram tocantes, a esse respeito!

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