Cada um, cada uma de nós é testemunha ou, pelo menos, já ouviu relatos de experiências grávidas de alternatividade, que nos reencantam o viver e restituem a esperança. Experiências que andam acontecendo, por vezes, bem perto de nós. E, no entanto, logo, logo, cedemos ao bombardeio incessante de ocorrências e situações que sufocam o nosso dia-a-dia, e até fazendo-nos esquecer ou subestimar as coisas boas à nossa volta. Eis uma perigosa armadilha!
Quem pode ganhar com isso, a não ser quem se prevaleça dessa ordem estabelecida? Para a lógica do sistema é fundamental alimentar e manter o maior número de pessoas, sob constante ameaça ou com cenas de medo e violência. Disso, não faz muito, já nos alertavam autores como Eduardo Galeano e Mia Couto, entre outros. Num texto emblemático de autoria deste último, por exemplo, Mia Couto destacava a força paralisadora do medo como arma das forças dominantes, em busca de tornarem impotentes os dominados: “Para fabricar armas, é preciso fabricar inimigos; para produzir inimigos é imperioso sustentar fantasmas (…) Eis o que nos dizer: ´para superar as ameaças domésticas, precisamos de mais polícia, mais prisões, mais segurança privada e menos privacidade; para enfrentarmos as ameaças globais precisamos de mais exércitos, mais serviços secretos e a suspensão temporária de nossa cidadania.”
(http://www.aridesa.com.br/vestibular/uece2012_1/questoes/Redacao.pdf )
(http://www.aridesa.com.br/vestibular/uece2012_1/questoes/Redacao.pdf )
Incumbe-nos ir além do que nos noticia a mídia convencional, se quisermos ousar empreender caminhos alternativos. Estes não se acham nas águas de superfície, alojam-se, antes, nas “correntezas subterrâneas”. É investindo nestas que vamos recuperando e exercitando nossas energias criativas, na incessante construção de um outro mundo possível e necessário. Não se trata de negar ou de fazer vistas grossas às ocorrências que desgraçadamente também nos cercam. Temos, sim, que conhecê-las pelas raízes, para melhor combate-las. Mas, de modo a que isto não nos imobilize, ou nos induza à desesperança, até porque esta nasce a partir de nossa incessante busca de caminhos alternativos à presente barbárie.
A hora é de ousarmos inverter progressivamente prioridades rotineiras: em vez superestimar nosso investimento em já desgastadas trilhas da oficialidade. Isto implica atrever-nos a conhecer e fortalecer experiências moleculares, iniciativas minúsculas, quase imperceptíveis, grávidas, todavia, de alternatividade, tanto no plano macro-social quanto na enorme multiplicidade de movimentos sociais desatrelados das correias do sistema, grupos e comunidades, redes sociais e outras organizações de base de nossa sociedade que se atrevem a gestar o novo, isto é, empreender trilhas alternativas a esse “sistema totalitária mercantil”.
Restrinjo-me a mencionar, de passagem, apenas uma ou outra dessas tantas experiências moleculares, que nos rodeiam, e que, por vezes, nos passam despercebidas. Que tal chegarmos mais perto daquelas organizações de base que militam lado a lado dos Trabalhadores do Campo, dos Povos Indígenas, das Comunidades Quilombolas, dos Povos das águas e da florestes, dos tantos grupos de Mulheres, das tantas organizações de Jovens da cidade e do campo, de movimentos de comprovada e fecunda caminhada como o MCP (Movimento das Comunidades Populares), dos grupos e comunidades que, à feição de movimentos, lidam com tecnologias alternativas de convivência com o semiárido, combatendo a lógica perversa do agronegócio, os megaprojetos e investindo em iniciativas de reconhecida eficácia social, organizações que cultivam a memória das lutas de nossas gentes, comunidades que lidam com diferentes processos de terapias comunitárias, holísticas, outras tantas que lidam com procedimentos alternativos de produção, em atitude respeitosa para com a Mãe-Natureza, vários grupos de jovens experienciando iniciativas de formação integral e contínua… Apenas umas poucas dessa imensa rede de protagonistas lidando com a alternatividade. A isso eu também chamo uma revolução em processo, de trabalho incessante, a longo prazo (mas já lançando desde já suas sementes de alternatividade)…
João Pessoa, 13 de novembro de 2012.
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