quinta-feira, 21 de julho de 2016

Resumo da III Semana Teológica Pe. José Comblin

III SEMANA TEOLÓGICA Pe. JOSÉ COMBLIN
(João Pessoa, 22, 23 e 24 de outubro de 2013)
Dia 22 de outubro
O tema geral da III Semana Teloógica, fruto da fecunda experiência das Jornadas Comunitárias do campo e da cidade, é “O Espírito Santo e a Missão: o protagonismo das Juventudes”, que passou a ser tratado mais diretamente, a partir do segundo dia, tanto nos painéis como nas exposições dialogantes, com distintos focos: gênero, geração, compromisso sócio-ambiental e formação.
O primeiro dia desta III Semana Teológica Pe. José Comblin, considerando a inspiradora figura de tal iniciativa, teve como foco a apresentação do livro póstumo do Pe. José Comblin, O Espírito Santo e a Tradição de Jesus, feita por Mônica Muggler (tendo destacado o processo de construção das distintas versões ligadas pelo autor do mesmo livro) e por Eduardo Hoornaert (atendo-se mais diretamente ao conteúdo do livro).
Como ocorreu no início e no encerramento de cada noite desta Semana Teológica, graças à animação de Marcelo, de Rita, de Pe. Carlos (com violão e flauta) e de outros integrantes da Rede Celebra, de Santa Rita – PB, os participantes foram convidados a vivenciarem um denso momento de espiritualidade, com cânticos, rito da luz, gestos simbólicos e invocação do Espírito Santo, todos sendo convidados a cantar o refrão “Não deixem cair a profecia”, uma das últimas palavras pronunciadas por Dom Helder Câmara, correspondendo ao conhecido apelo paulino: “Não extingais o Espírito Santo. Não desprezeis as profecias.” (1 Ts 5, 19-20).
Coube a Aparecida Paes Barreto (Cida), do Grupo Kairós/Nós Também Somos Igreja, e a Pe. Hermínio Canova, do Grupo Igreja dos Pobres, em nome dos demais grupos organizadores da III Semana Teológica Pe. José Comblin,fazerem a abertura da III Semana. Cida cuidou de dar as boas-vindas a(o)s participantes, bem como fazer uma breve recapitulação das Semanas Teológicas precedentes, enquanto o Pe. Hermínio Canova sublinhou o caráter da primeira noite, acenando para a tarefa confiada a Eduardo Hoornaert e Mônica Muggler, de apresentarem o já referido livro póstumo do Pe. José..
Em seguida, Cida retoma a palavra, para chamar à mesa os expositores da noite, o historiador e teólogo Eduardo Hoornaert e a missionária e coordenadora das Escolas de Formação Missionária, Mônica Muggler.
MÔNICA MUGGLER
Mônica iniciou felicitando os grupos organizadores da Semana Teológica pelo empenho e persistência na promoção desta iniciativa. Forneceu, de passagem, vários informes sobre livros e artigos reunidos no Memorial Pe. José Comblin, em Santa Fé (Solânea), de onde estava vindo há poucos dias, e onde, em meio a cerca de quatrocentos artigos lá reunidos, pôde revisitar alguns textos do Pe. José, escritos nos anos 60, que muito a impactaram por sua reconhecida atualidade.
Já acenando para o livro póstumo, “O Espírito Santo e a Tradição de Jesus”, lembrou que, dentre os mais de 70 livros escritos por Pe. José, a grande maioria resultou de convites e encomendas que lhe faziam, para atender a distintas necessidades e aspirações editoriais e pastorais, enquanto apenas uma pequena parte – uma meia dúzia – é que tinha brotado genuinamente de sua iniciativa (“Tempo da Ação”, 1982; “A Força da Plavra”, 1986. “Vocação para a Liberdade”, 1998; “O Povo de Deus”, 2002; “Vida em Busca da Liberdade”; “A Profecia na Igreja”).
Quanto ao livro póstumo, “O Espírito Santo e a Tradição de Jesus”, surgiu de uma pergunta de uma pessoa do Grupo que costumava reunir-se mensalmente em sua residência, em Bayeux, indagando-o sobre por que ele ainda não havia escrito um livro expressamente voltado sobre a ação do Espírito Santo na Igreja.
Aceita a provocação, ele cuida de redigir o livro, que acabou recebendo distintas versões, alcançando cinco diferentes versões, uma das quais sumiu do seu computador, graças a uma tecla equivocada sobre a qual havia pressionado…
Era o estilo de Pe. José dificilmente contentar-se com uma única versão. Costumava refazer seu caminho de redação, buscando aprimorar, mas sem reeditar o já escrito.
Em março de 2011, ainda não havia acabado o livro, por força de viagens e deslocamentos frequentes que precisou fazer, implicando interrupção de sua rotina de produção. Esperava publicar seu livro no final de 2011. O fato é que veio a ter sua páscoa em 27 de março de 2011, deixando inacabada sua obra.
Com a crescente expectativa de que o livro fosse publicado (agora, postumamente), emergia a pergunta: publicar, sim, mas qual das versões? Em conversas com pessoas próximas, inclusive Dom Frei Luiz Cappio, bispo de Barra – Ba, que acolhera Comblin e Mônica na Diocese de Barra, foi aconselhada a publicar todas as versões, tal como sucedera no processo semelhante ao que os franciscanos fizeram em relação aos escritos de Francisco de Assis.
Difícil, porém, resultou a aceitação por parte da Editora Paulus (na qual o autor vinha publicando suas obras, já havia algumas décadas). Foi comunicado pela Editora que só publicaria um determinado número de páginas, insuficientes para a assegurar a publicação de todas as versões.
Sendo assim, ela resolveu recorrer à Nhanduti Editora, de São Paulo, que aceitou publicar todas as versões e mais uma apresentação feita por Dom Cappio, além da introdução explicativa feita pela própria Mônica.
Enquanto relatava esse processo, Mônica também foi feliz ao ilustrar várias passagens de sua fala com situações e testemunhos acerca do estilo do Pe. José Comblin.
EDUARDO HOORNAERT
Antes de ater-se ao conteúdo do livro, fez algumas observações preliminares. Deu a conhecer a recente aparição, em Flamengo, na Bélgica, graças a iniciativa de amigos de Pe. José, de um livro contendo textos diversos de Comblin, Exemplar que presenteou a Mônica. Também, informou que, ainda na Bélgica, deve sair até inícios de 2014, um outro livro sobre Comblin, em Francês, trazendo, inclusive, vários artigos de teólogos brasileiros e de outros países, que ele próprio, Eduardo, já havia incluído e publicado em uma coletânea organizada pelo mesmo. Observou que ouviu desses amigos belgas a afirmação de que Pe. José, considerando o longo tempo vivido fora de sua terra, é aqui ainda um desconhecido…
Sobre o livro, discorreu sobre diferentes aspectos das versões, atendo-se mais diretamente a um aspecto, já analisado na coletânea que ele organizara, de autoria do teólogo Jung Mo Sung, que se concentra fundamentalmente na questão geracional em Comblin.
Trata-se de tema recorrente em obras precedentes, especialmente em seu O Provisório e o Definitivo (publicado pela Editora Herder, São Paulo, em 1968) no qual sustenta a tese de que cada geração é autônoma para propor e trabalhar sua perspectiva teológica específica, sem amarrar-se a autores de gerações precedentes.
Enquanto expunha seus comentários, também trazia questões candentes, a exemplo da apresentação que o próprio Comblin, em seu livro póstumo, lembrando, por exemplo, a aurora da Teologia da Libertação, quando ainda esta nem nome próprio tinha (dado por Gustavo Gutiérrez, em seu conhecido livro, de 1971/72). Ainda em meados dos anos sessenta, Comblin fazia parte de um pequeno grupos de teólogos iniciadores da Teologia da Libertação, do qual também faziam parte, entre outros, Juan Luiz Segundo, Segundo Galilea, Gustavo Gutiérrez.
Comblin tinha um estilo desinstalador. Mesmo em relação à Teologia da Libertação, aqui, ali, provocava situações de questionamento, inclusive entre seus colegas teólogos, como, por exemplo, em relação à tendência dominante de se lidar com categorias marxistas, ainda que tivesse conhecimento e apreciasse a obra de Marx.
Outro ponto tocado em sua fala, tem a ver com a posição de Comblin quanto a tratar a Tradição de Jesus como idêntica a um Messianismo, ainda que a Tradição de Jesus se valha de posições messiânicas do Judaísmo para extrair lições.
Após a exposição de Eduardo, seguiram-se várias intervenções da parte dos participantes, num fecundo exercício dialógico, inclusive com a participação e presença na abertura e nas intervenções de irmãos de distintas Igrejas reformadas, conferindo o tom ecumênico do Encontro, umas de suas marcas mais expressivas.
Dia 23 de outubro
O segundo dia III Semana Teológica Pe. José Comblin repartiu-se em três momentos que se interpenetram: durante a manhã, tivemos o desdobramento do tema geral da Semana (“O Espírito Santo e a Missão: o protagonismo das Juventures”) trabalhado com distintos focos: ecumenismo, gênero, compromisso sócio-ambiental e formação, todos perpassando a dimensão geracional. Na parte da tarde, além da continuidade desse momento de aprofundamento, tivemos a participação dos integrantes do recém-criado Núcleo de Estudos Pe. José Comblin, da UNICAP (Universidade Católcia de Pernambuco) e dos organizadores da Revista eletrônica Paralelluls; enquanto na parte da noite, o mesmo tema geral foi trabalhado, nas exposições dialogantes, sob o prisma do ecumenismo.
Manhã
Inicialmente, o Pe. Hermínio Canova, após convidar os presentes a um Oração, cuidou de explicitar a programação do dia, bem como propor algumas alterações na Programação, em função das circunstâncias e do número de participantes, sugerindo, inclusive, converter o formato oficinas em sucessivos painéis apresentados no mesmo auditório. Uma vez sugeridas, discutidas e acordadas tais sugestões com os presentes, Pe. Hermínio prosseguir sua introdução aos trabalhos da primeira manhã.
Tomando em consideração, especialmente, o fato de que várias pessoas presentes não haviam podido comparecer, no primeiro dia, convidou Alder Júlio a rememorar, em breves traços, como se havia desenrolado a primeira noite da III Semana Teológica, inclusive oferecer alguns elementos sobre como se havia construído o processo de organização da III Semana Teológica, graças ao protagonismo propiciado pelas Jornadas Comunitárias vivenciadas junto às comunidades rurais (região de Café do Vento, Sobra – PB e adjacências) e e urbanas (Alto das Populares, Santa Rita – PB). Feita tal rememoração, passou-se a convidar os/as responsáveis pela coordenação/animação dos três painéis, iniciando-se pelo Painel sobre os desafios sócio-ambientais e nosso comprimsso de cristâ(o)s especialmente em relação à convivência com o Semiárido brasileiro.
Primeiro Painel: Desafios sócio-ambientais e compromisso com a convivência com o Semiárido: Cecília Gomes (CPT/Cajazeiras), Joandro Gomes (CPT/Cajazeiras), com a colaboração de Vandeildo (da CPT, do Pajeú de Pernambuco)
Amparada em recursos do Powerpoint, Cecília iniciou sua uma exposição lúcida e didática sobre os desafios do Semiárido, recuperando elementos históricos, em âmbito internacional, especialmente a partir do final da Segunda Guerra Mundial, desde quando surge a famigerada “revolução verde” (que Pe. Tiago prefere chamar de “pacote verde”), com o propósito das grandes corporações de aplicar na agricultura as fartas reservas de substâncias químicas que sobraram do intensivo uso deles feito para a destruição dos inimigos. Finda a Segunda Guerra Mundial, essas grandes empresas trataram de aplicar na agricultura esses venenos, com a alegação de assegurar alimentos para as populações famintas, por meio da intensificação da lógica da produtividade através da aceleração artificial dos ritmos próprios do processo de produção agrícola.
No contexto dessa evolução é que se vai expandindo o hidro-agronegócio em todo o mundo. Também no Brasil e no Nordeste. Isto vai se traduzir no privilegiamento dos monocultivos (soja, cana, eucalipto, etc.) e da pecuária, em detrimento da diversificação de lavouras, tão característica da cultura camponesa e da agricultura familiar, cujas terras vão ser convertidas (inclusive pelo processo de grilagem, de expulsões dos trabalhadores e trabalhadoras de suas terras) em crescentes áreas de monoculturas, implicando em graves e crescentes danos à Mãe-Natureza e a toda a comunidade de viventes.
Desse processo vão resultar conflitos de toda sorte, assassinatos de trabalhadores e trabalhadoras, expulsões, conversão de extensas e crescentes áreas de plantações diversificadas como milho, feijão, mandioca, legumes, frutas, etc. em monoculturas, com sua vasta gama de danos sócio-ambientais, também no Semiárido.
Cecília e Joandro, com a efetiva contribuição de Vandreildo, também destacaram, sobretudo, várias formas de resistência e de iniciativas fecundas dos trabalhadores e trabalhadoras, em diversos Assentamentos do Alto Sertão da Paraíba e do Vale do Pajeú, em Pernambuco, a darem prova do que são capazes, no cuidado do solo, das sementes, no uso do solo, no emprego de tecnologias alternativas de efetiva convivência com o Semiárido. No rico material videográfico trazido por Cecília e Joandro, chamava particular atenção o tópico intitulado “Decifrando a Natureza”, como um modo de compreensão mais funda dos ritmos e da dinâmica da Mãe-Natureza, como condição de contribuir positivamente, inclusive, para uma saudável convivência com o Semiárido.
Enquanto Cecília e os demais jovens faziam suas apresentações, ia-se desenvolvendo entre as pessoas presentes no auditório do Centro de Educação da UFPB um caloroso debate, com questionamentos e intervenções dialogantes.
Segundo Painel: como se dá o processo formativo das Juventudes (Jeane Tranquelino, CEBs de Mamanguape)
Jeane começou por se apresentar. É professora, atuando em Mamanguape. Segue acompanhando de perto as lutas e o processo formativo dos jovens da região. Desde o final dos anos 90, passou por um processo de formação que a tem marcado profundamente, seja pelos cursos que recebeu no Centro de Formação Missionária (em Serra Redonda), depois também na Fundação Dom José Maria Pires, sempre acompanhada por educadores de referência da região, como Raimundo Nonato (CFM e Fundação Dom José Maria Pires), João Baitsta (da Fraternidade do Discípulo Amado, Sítio Catita, Colônica Leopoldina – AL).
Desde sua inserção na PJMP (Pastoral de Juventude do Meio Popular), bem como na CPT (Comissão Pastoral da Terra) e nas CEBs, tem-se convencido da importância desse processo formativo, destacando sobretudo aspectos tais como:
– a permanência/continuidade: quem passa por ele processo fica marcado durante toda a vida;
– o despertar da consciência cidadã, a partir do compromisso com os pobres;
– a promoção do protagonismo: todos se sentem chamados a participar do processo, de suas decisões.
Atualmente, vem acompanhando mais de perto os preparativos das CEBs da Arquidiocese da Paraíba, em direção à sua participação no XIII Intereclesial, a realizar-se em janeiro de 2014.
À semelhança do que se deu no painel precedente, a apresentação didática e objetiva por parte de Jeane, a compartilhar sua experiência formativa de jovem, suscitou diversas intervenções da parte das pessoas participantes.
Na parte da tarde
Tinha sido acordado que, devido ao tempo, o terceiro painel seria vivenciado na parte da tarde, seguida dos informes e propostas dos participantes vindos de Recife, mais precisamente da UNICAP (Universidade Católica de Pernambuco). E assim foi.
Terceiro Painel: O protagonismo das mulheres nas Igrejas cristãs (Artur Peregrino)
Artur Peregrino começou explicando que o convite inicial para essa oficina (agora convertida em painel) tinha sido feito conjuntamente a Maria das Dores (Dorinha), de Santa Rita, e a ele próprio. Impossibilitada, Dorinha, de comparecer, ele teve que assumir sozinho a condução do Painel, reconhecendo que, até pelo tema, teria sido melhor a condução por parte das mulheres. Mas, por outro lado, estava confiante em que se trata de estimular a participação e o protagonismo de todos os presentes.
Para desencadear a discussão, partiu como referência de três nomes de mulheres teólogas feministas: Ivone Gebara, Elsa Támez e Maria Lopez Vigil. Lembrou que, em entrevista concedida a jornalistas, quando de seu retrono do Brasil (Jornada Mundial da Juentude), o Papa Frncisco acenou para a necessidade de se produzir uma “teologia da mulher”. Declaração que desagradou algumas teólogas feministas, como Ivone Gebara, que lamentou que, depois de tanta produção no campo da teologia feminista, o Papa Francisco dela ainda não tenha toma conhecimento…
A partir dessas referências, Artur passou a propor distintos trechos de citações, com o propósito de, em sua expolisção, ir problematizando situações concretas indicadoras da importância efetiva das mulheres nas igrejas cristãs, o que contrasta ainda largamente com o lugar decisivo nelas ocupado. Situações a indicar uma ampla hegemonia de relações patriarcais (nas igrejas e nas sociedades), ignorando o fato de que nem sempre foi assim, como sublinha Rose Marie Muraro, em seus estudos.
Como sinais de resistência e de avanço, tanto Artur como outras falas (masculinas e femininas) apontaram exemplos concretos de como, em muitas comunidades pelo mundo afora, as mulheres vêm tomando iniciativas de autonomia, inspiradas numa releitura popular da Bíblia, fazendo surgir atitudes e iniciativas inovadoras para além das balizas permitidas pelo Vaticano. É o caso de sucessivas notícias de como as mulheres vêm passando a assumir a responsabilidade de presidirem, em suas comunidades, à memória da Ceia do Senhor, abençoando, inclusive, o pão e o vinho, de forma comunitária, além de várias outras celebrações.
Informes dos integrantes do recém-fundado Núcleo de Estudos Pe. José Combin, da UNICAP, bem como da Revista eletrônica Paralellus
Foram convidados à mesa cinco pessoas integrantes do Núcleo de Estudos Pe. José Comblin e de responsáveis pela revista eletrônica Paralellus, da UNICAP
Após apresentação, o Prof. Gilbraz cuidou de informar aos presentes sobre a biblioteca doada por Pe. Comblin à UNICAP, após certificar-se, não apenas da qualidade das instalações e dos cuidados especiais que a UNICAP assegura aos doadores, mas também as condições de atendimento ao público interessado. O Prof. Gilbraz também forneceu informações sobre o uso da biblioteca pelos pesquisadores e pelo público em geral.
Informou, igualmente, da recente criação do Núcleo de Estudos Pe. José Comblin, destacando seu caráter, seus objetivos, seu funcionamento, bem como sobre o grupo de componentes, com reuniões mensais, no prédio da Pós-Graduação em Ciências das Religiões.
Com a contribuição das demais pessoas que se apresentaram, informações também foram prestadas sobre a revista eletrônica Paralellus, cujo primeiro número foi dedicado ao legado do Pe. José Comblin. Tanto da revista quanto do Núcleo, foi informado ainda o endereço eletrônico onde podem ser encontrados mais detalhes:
http://www.unicap.br/comblin/
Na fala do Pastor Paulo César Pereira, integrante da mesma Equipe, foram apresentadas propostas instigantes de parceria com outros Grupos que se dedicam ao estudo do Pe. José Comblin. Podem ser conferidas no enderço eletrônico acima. Da Equipe também partiu a sugestão de um rodízio de sede da realização das Semanas Teológicas Pe. José Comblin. Propostas que pediram que o Grupo Kairos e outros parceiros analisassem para uma resposta posterior.
Na parte da noite
Como na noite precedente, coube aos integrantes da Rede Celebra, de Santa Rita, animar o momento especial de espiritualidade, no início e no encerramento da noite, com uma proposta litúrgica bem afinada ao espírito combliniano, em seus cânticos, em sua simbologia, em sua faz na primazia dos pobres, dos mártires. A Oração foi pronunciada pelo Pastor Sadraque, que esteve acompanhado de irmãos e irmãs da Igreja Betesda.
Foi, em seguida, passada ao Pe. Josenildo Lima a incumbência de coordenar os trabalhos da segunda noite. Fez uma oportuna contextualização dos desafios hoje colocados, bem como de iniciativas proféticas em curso, seja ao interno seja ao externo das igrejas cristãs. Em seguida, anunciou o tema da noite, com enfoque sobre o ecumenismo, e passou a chamar à mesa e a apresentar os convidados da noite: a Profa. Eunice Simões Gomes, da Pós-Graduação do Curso de Ciências das Religiões da UFPB, membro da Igreja Presbiteriana, e do Pe. Francisco de Aquino Júnior, teólogo e presbítero trabalhando como professor na Universidade Católica do Ceará, em Fortaleza, ofício que concilia com seu trabalho de animação junto a pastorais sociais e a movimentos sociais , inclusive a Pastoral do Povo da rua.
Profa. Eunice Simões
A partir do tema proposto, “O Espírito Santo e a Missão: o protagonismo das Juventudes”, e após suas palavras iniciais, prestadou homenagem ao Pe. Comblin, relembrando seu encontro marcante com ele, especialmente pela forma como a recebeu: “Em que posso servi-la?”, demonstrando acolhimento, disposição de servir e humildade. Antes de desenvolver sua reflexão sobre o tema proposto, Eunice propôs a(o)s presentes assistirem a um breve vídeo, com cenas que evocavam aspectos do tema. Passou, então, a distribuir su fala em quatro pontos, dentre os quais o sentido devocional em relação ao Espírito Santo, a dimensão meditativa, a dimensão comunitária.
Em cada uma das quatro dimensões contempladas, buscou combinar uma fundamentação bíblica (especialmente nos Salmos, mas também em outros livros) com ilustrações de situações existenciais concretas, a partir também de sua experiência como mãe, ao lidar com a educação de seus filhos – em especial a filha jovem, junto com o esposo.
Por meio desses exemplos, fazia notar o tamanho do desafio de se lidar com as diferentes expressões dos jovens de hoje, dada a complexidade e implicações concretas de um mundo globalizado, cuja grade de valores vai em direção contrária à que corresponde ao Reinado de Deus.
Pe. Francisco de Aquino Júnior
Ateve-se mais diretamente ao enfoque ecumênico do tema proposto. Ao situar as dificuldades de se fazer ecumenismo, hoje, acentuou os equívocos decorrentes do fato de se tratar ecumenismo mais como um discurso (“diálogo”) do que como práxis. Daí sua opção por começar situando as balizas de sua fala, a partir de seu propósito de situar, em grandes linhas, os desafios da vivência do ecumenismo, hoje, na América Latina. A partir daí, cuida de examinar distintas situações concretas fazendo aparecer tais entraves. Por último, foca a proposta de um ecumenismo de base forumalada por Júlio de Santana, uma referência latino-americano, inclusive pela sua reconhecida contribuição em um dos títulos do Projeto “Teologia e Libertação”, do qual participa justamente na abordagem do ecumenismo, em seu livro intitulado Ecumenismo e Libertação: reflexões sobre a relação entre a unidade cristã e o reino de Deus, publicado pela Vozes, em 1991.
Parte da convicção de que o que mais une os cristãos não é seu “diálogo” abstrato e formal em cima eventuais convergências doutrinárias, mas quando eles/elas se engajam na luta pela justiça e pela defesa “do órfãos, da viúva e do estrangeiro”, quando abraçam para valer o Reinado de Deus e sua justiça, desde a perspectiva dos pobres, dos povos indígenas, das comunidades quilombolas, das vítimas de homofobia, das mulheres, vítimas cotidianas da violência doméstica.
Daí a importância de não se fundar o trabalho ecumênico no discurso das doutrinas, mas na práxis do compromisso com a causa libertadora dos pobres. Nessa direção é que aponta a proposta de ecumenismo de base, feita por Júlio de Santa Ana, em escala latino-americana.
Seguiu-se a essas exposições um fecundo debate, com várias intervenções e questionamentos levantados aos expositores, a começar pelo Pe. Josenildo e graças à sua mediação.
No encerramento da noite, vota para a Rede Celebra a incumbência da celebração final. Aqui surge uma bela jovem vestida com roupas alusivas à paz, a dançar, ao ritmo da bela melodia, composta por Zé Vicente: “É bonita demais/ É bonita demais/ A mão de quem conduz a bandeira da paz”.
Dia 24 de outubro
Manhã
Como estava previsto, foi realizado o II Encontro de Jovens Teólogos e Teólogas do Nordeste, mediado pelo Pe. Josenildo, que após a abertura, solicitou uma roda de apresentações.
Pe. Hermínio Canova fez um breve relato do que havia sido o I Encontro de jovens teólogos e teólogas do Nordeste, realizado por ocasião da II Semana Pe. José Comblin. Tendo em vista a diversidade de perfis presentes no Encontro, pelo Pe. Francisco de Aquino Júnior e outros foi lembrado que, sob certo aspecto, todos/todas são teólogos/teólogas, havendo aquelas/aquelas que se dedicam ao oficio, de modo mais orgânico, no sentido mais acadêmico.
Várias falas foram expressas, em especial sobre as grandes inquietações e desafios que cercam a caminhada do Povo de Deus, hoje, em especial ao interno da Igreja Católica.
Foram socializados pelos respectivos autores suas obras mais recentes, como o fez o teólogo Francisco de Aquino Júnior, com vários trabalhos publicados, seja como autor singular, seja em coautoria. De modo semelhante, também o Pe. Josenildo socializou entre os presentes informes sobre recente publicação de um artigo seu, refletindo sobre os desafios das CEBs.
Muito importante, também, a contribuição de Ulisses, informando sobre dois números do CEBI, um dos quais trazendo reflexões instigantes sobre as recentes manifestações populares, no Brasil, com um olhar teológico.
Tarde
Na parte da tarde, a programação constou basicamente da projeção de dois vídeodocumentários:
– “Vidas Cheias”: apresentado o intenso verde e a exuberante produção agroecológica do alto Sertão, graças ao tratamento alternativo que se tem com a Mâe-Terra, em franca contraposição à lógica de Mercado característica do hidro-agronegócio;
– “Escola Família Agrícola Dom Fragoso, situada em Independência – CE; apresentando um processo formativo contextualizado, alternativo à lógica da escola convencional, à medida que se promove o protagonismo de todos os formandos, educando-os, seja no tempo chamado “sessão-escola”, seja na “sessão-comunidade”, com base no trato agroecológico, no compromisso de convivência com o Semiárido, bem como em orgânica interação com as famílias e comunidades de onde vêm os formandos.
Os videodocumentários suscitaram viva discussão sobre diferentes cenas neles observadas. Discussão que se ampliou a partir da pertinente e oportuna provocação feita pelo Pe. Francisco de Aquino Júnior: “O que tudo isso tem a ver com Teologia?” Em ressonância à provocação de Júnior, foi dito que os documentários permitiam uma (re)leitura da Criação, especialmente quanto aos cuidados (não tanto “domínio”) com a Mãe-Natureza. Permitiam um olha cristológico, mais atento às relações horizontais, de igualdade, de respeito à diversidade. Permitiam, sobretudo, um olhar pneumatológico, atento à ação do Espírito Santo no mundo e nas relações sociais.
Em seguida, foi a vez do jovem Poeta João Muniz nos brindar com a recitação de suas belas poesias sobre as gentes do campo, suas lutas, conquistas e esperanças. Mais: João Muniz, ao seu violão, também nos apresentou número especial por ele executado.
Noite
Pela iniciativa de Marcelo, sempre acompanhado de outros integrantes DA Rede Celebra, de Santa Rita, inclusive ao som do violão e da flauta, deu-se início ao momento de espiritualidade, com cânticos (“Não deixem cair a profecia” e com a leitura do Evangelho (Lc 4, 14-21).
Em seguida, o moderador da noite, Vanderlan, da Comissão Organizadora da III Semana, após explicitar o sentido das reflexões desta última noite, chamou à mesa o Pe. Hermínio Canova, da CPT e formador de várias comunidades rurais em torno de Sobrado – PB; a missionária Fátima Quirino, membro da Equipe de Coordenação da Escola de Formação Missionária de Mogeiro; e o casal Domitila Rodrigues e Tiago, ambos militantes do Movimento das Comunidades Populares, todos com a tarefa de relatar suas respectivas experiências de formação.
Pe. Hermínio Canova
Relata experiências de formação de jovens cristãos do meio rural, nas adjacências de Café do Vento (ou Antas do Sono), município de Sobrado – PB. Nessas comunidades de jovens do campo, foram realizados dois tipos de formação: um tendo a ver com demandas profissionais, atendendo às necessidades de inserção profissional, enquanto o outro ciclo de formação dizia respeito mais diretamente às demandas de formação cristã, de humanização.
No primeiro caso, foram oferecidos vários cursos profissionalizantes, conforme o interesse dos cursandos, com uma gama de opções atinentes a distintos ofícios dos jovens do campo.
No segundo caso, cerca de quarenta jovens tiveram a experiência formativa do Curso Básico, experiência do Curso da Árvore, por vários anos sendo oferecido a dezenas de jovens do meio popular, dentro da pedagogia combliniana. O Curso Básico consiste na feliz combinação entre conteúdos e metodologia. A partir de sete temas-chave (Igreja-Comunidade; o mundo dos pobres; Missão; Vocação; Oração; Ministérios; Povo de Deus), cada um vivenciado num final de semana por mês, os formando passam a trabalhar cada um desses temas-chave, recorrendo (em cada final de semana de atividades) a oito passos: oração, motivação (a partir da simbologia da árvore), troca de experiências, caixa de retratos (aprofundamento de textos bíblicos sobre o tema em foco), a vida de um santo, documentos da Igreja, nossa ação e celebração de encerramento.
Após o Curso Básico, foram trabalhados com essas comunidades um curso de Cristologia, outro de História da Igreja e, ainda em curso, um sobre Liturgia.
Fátima Quirino
Relatou a experiência formativa das Escolas de Formação Missionária, criadas pelo Pe. Comblin, espalhadas pelo Nordeste (Na Bahia: em Juazeiro e na Barra; em Pernambuco: em Floresta e em Nazaré da Mata; na Paraíba: em Mogeiro; no Piauí: em Esperantina).
Destacou os conteúdos aí trabalhados, dentre os quais Bíblia, Realidade Social, Liturgia, Dinâmica de Grupo, Aconselhamento… Tão importante quanto a parte dos conteúdos, é a metodologia seguida, fundada no protagonismo de todos, na formação para a Liberdade por caminhos de Liberdade, o compromisso com a causa libertadora dos pobres, o incessante acompanhamento dos formandos, mesmo depois de findo o período de formação presencial. Quem passa por essa experiência formaiva, segue nela e com ela comprometido pelo resto da vida.
Domitila e Tiago
Empregando recursos visuais, Domitila e Tiago iniciaram sua fala sintetizando a história do Movimento das Comunidades Populares (MCP), sucedâneo da JAC (Juventude Agrária Católica), do MER (Movimento de Evangelização Rural), tendo passado ainda por outras denominações, até chegar ao atual MCP.
Está organizado em todas as regiões do País, em um número considerável de Estados. Seus militantes trabalham colados às lutas populares do campo e da cidade. Enraizam-se nas comunidades, promovendo iniciativas de organização de base, em distintos setores da vida (eduação cultura, espportes, saúde, trabalhos artesanais, mecanismos de investimento coletivo, com propósito de autonomia financeira e política frente ao Mercado, ao Estado e outras estruturas institucionais.
Mantém dois jornais: um dedicado mais diretamente ao público adulto (“A Voz das Comunidades”) e outro dirigido mais explicitamente ao público jovem (“A Voz da Juventude Popular”). Esses veículos não são apenas informativos, servem como ferramenta de formação entre seus membros.
Em Santa Rita, no Alto das Popualres, fica a sede do MCP, onde também funciona a Escola do MCP, com espírito alternativo à educação convencional. Além disso, há um sem número de atividades organizadas pelo MCP com os jovens do bairro, abrandendo desde cultura, educação, esportes, artes, comemorações especiais.
Uma vez travado um bom debate em cimas das experiências relatadas, o moderador Vanderlan passou o microfone a Alder Júlio, para uma palavra de encerramento. Tratou de chamar os participantes a uma ação de graças pelo que foi densamente vivenciado nesses três dias. Também, agradeceu a quantos contribuíram para a realização da III Semana, desde os grupos parceiros na organização, às comunidades que protagonizaram as Jornadas, passando pelos convidados e por todos os participantes desta III Semana Teológica Pe. José Comblin.
Coube aos animadores e animadoras de Rede Celebra a grata tarefa de encerrar a celebração da noite, com a oração do Pai Nosso, e com a bênção final pelas mãos da Missionária Fátima Quirino, ao que se seguiram os abraços de paz.

Nota: O propósito do resumo é de fornecer a muitas pessoas (de perto e de longe) que não puderam comparecer à Semana, alguns elementos informativos de como transcorreu esta experiência. Trata-se, como se percebe, de um resumo aproximativo, feito sem tomada de notas nem consulta prévia aos expositores e expositoras, sujeito, portanto, a falhas, imprecisões e omissões.

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