quinta-feira, 21 de julho de 2016

Educação humanizadora, contínua, transformadora: traços fortes da formação combliniana

À semelhança do que costuma acontecer nas demais Escolas de Formação Missionária – uma meia dúzia espalhada pelo Nordeste -, também a de Mogeiro – PB celebrou a “conclusão” formativa de uma de suas turmas, domingo passado, dia 2 de fevereiro de 2014.
Sessão muito marcante! Lá se encontravam, além das concluintes, também colegas de outras turmas, familiares, amigos convidados para aquele momento, além de membros da Coordenação da Escola, professores, um dos quais Raimundo Nonato, escolhido como o paraninfo daquela turma concluinte.
Não apenas as palavras pronunciadas pelo paraninfo (ver abaixo) e pelas concluintes, mas igualmente o jeito de dizê-las traduzem bem o âmago dessa experiência formativa.
O que ouvimos, então, do paraninfo (a pedido meu, Nonato enviou o texto de seu discurso):
“Palavra proferida por Raimundo Nonato por ocasião da Conclusão de uma etapa da Formação Missionária de Ana, Kely e Anunciada, no dia 02/02/2014 na cidade de Mogeiro PB.
Queridas Irmãs e Caríssimos irmãos, Bom Dia!
Feliz de quem recebeu o convite de Deus para Evangelizar. O Evangelho de Jesus, a sua novidade, é a fonte da verdadeira alegria. Como nos ensina e lembra o nosso admirado e querido Papa Francisco: ¨A ALEGRIA DO EVANGELHO enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria.¨
Ana, Anunciada e Kelly hoje concluem uma etapa importante de sua formação como missionárias. Através do testemunho delas, Deus nos tem algo a dizer. Foram 4 anos de formação. Perguntamos a elas que transformação, que reboliço essa escola fez em suas vidas?
Testemunhos…
Sabemos muito bem que o mundo atual quer fazer de nós simples consumidores, fechando os nossos corações nos nossos próprios interesses:
Eis mais uma vez o nosso papa Francisco nos exorta e adverte: “Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem. Este é um risco, certo e permanente, que correm também os crentes. Muitos caem nele, transformando-se em pessoas ressentidas, queixosas, sem vida. Esta não é a escolha duma vida digna e plena, este não é o desígnio que Deus tem para nós, esta não é a vida no Espírito que jorra do coração de Cristo ressuscitado.
Portanto não nos deixemos seduzir pelo consumismo. Que a nossa missão alargue os espaços de solidariedade em torno de nós. Somente assim manteremos viva a chama da alegria que tem como fonte o Evangelho.
Mantemos, entre nós, a presença bem viva do nosso querido padre José Comblin, que está na raiz das escolas missionárias. A Ele devemos a inspiração e coragem, o seu testemunho e alegria. Peço, para ele uma salva de palmas.
Raimundo Nonato de Queiroz.
Mogeiro, 02 de fevereiro de 2014.”
Palavras concisas, densas, de modo a destacarem, em poucos minutos, traços relevantes da pedagogia combliniana, tanto no conteúdo, quanto no modo de proceder.
Começo por destacar este último aspecto. Prestando bem atenção ao que lemos neste texto de Nonato, percebemos que, a certa altura, está escrito: “Testemunhos”… Tratava-se de inserir no seu discurso o discurso das concluintes. Trata-se de um todo, do qual as concluintes, tratadas, também aí, como protagonistas do seu processo de formação, tinham a dizer sua palavra. Não sem antes serem advertidas pelo paraninfo, de que ali estavam concluindo “uma etapa de sua formação”. Sim, porque, diferentemente do espírito largamente predominante na formação escolar oficial, quando se termina uma faculdade, tem-se tal momento como uma conclusão, como encerramento cabal… A proposta combliniana, à semelhança da pedagogia freireana, indica que quem tenha passado por uma dessas Escolas (ou de qualquer outra experiência formativa da família combliniana) assume o compromisso de seguir, pessoal e coletivamente, seu processo formativo. Prova convincente disto são os grandes momentos de encontros gerais, como aquele ocorrido em março do ano passado, no Santuário do Pe. Ibiapina, em Solânea – PB), do qual das cerca de 600 pessoas participantes daquela Romaria, a enorme maioria era formada de egressos dessas escolas, já em três gerações (desde final dos anos 80). Trata-se decididamente de uma proposta de formação contínua, processual, ao longo de toda a vida.
No discurso do paraninfo, também ficam destacados vários outros aspectos desse processo processo formativo, tais como:
– o empenho em formar Gente comprometida com as distintas facetas do processo formativo: trabalho, cidadania, relações de gênero, etnia, gerações, valores (solidariedade, justiça, liberdade, partilha, alegria…);
– compromisso com a transformação social, começando pela transformação da própria formanda, do próprio formando e dos sujeitos envolvidos nessas experiências formativas. A partir desse compromisso, assume sentido eficaz o compromisso com a transformação das estruturas e das relações sociais, econômicas, políticas e culturais, em parceria orgânica com as forças sociais comprometidas com o mesmo horizonte de sociabilidade.
Eis, pois, alguns traços que destacamos, de passagem, dessa experiência formativa vivenciada nas Escolas de Formação Missionária, de cuja organização, como lembra Nonato, José Comblin esteve na raiz.

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