quinta-feira, 14 de julho de 2016

SEGUIR APOSTANDO CEGAMENTE NO ESTADO OU ENSAIAR PASSOS RUMO A UMA NOVA SOCIEDADE ALTERNATIVA AO MODELO IMPERANTE?

Por mais que acompanhe com atenção, surpreendem-me fatos, situações e acontecimentos diários dando conta, de um lado, da incapacidade radical de o Estado – não apenas o Estado brasileiro – assegurar o atendimento das demandas fundamentais (materiais e imateriais) do conjunto de uma sociedade, e, por outro lado, da (quase) invencível aposta cega de amplos setores da população, inclusive com notável escolaridade, na capacidade de o Estado, por meio de seus distintos aparelhos (Executivo, Legislativo, Judiciário com seu sistema penitenciário e suas forças de repressão), assegurar justiça social, em suas distintas esferas.
Tal é a aposta, que, por vezes, dá-nos a impressão de que, haja o que o houver como CONTUNDENTES PROVAS EM CONTRÁRIO, a grande maioria segue apostando na capacidade de “melhorar” o Estado. E com o apoio e incentivo de forças que se querem comprometidas com a igualdade social, a universalização dos direitos e serviços públicos de qualidade, a erradicação de privilégios, o respeito às diferenças e à diversidade humana, a promoção da dignidade do Planeta, etc., etc., etc.
Quase todos os dias, tomamos conhecimento de alguma mazela cometida pelas instâncias do Estado, seja nos âmbitos federal, estadual e municipal, seja em seus distintos poderes. Escândalos se sucedem, impactam por um momento parcelas da população, mas logo são ignorados ou subestimados, na ilusão de que isto vá mudar…
A exemplo de várias pessoas espalhadas pelo Brasil afora, também acompanhei o estranho processo de eleição do presidente do Senado e da nova Mesa diretora, para o próximo biênio. Um processo com tempo insuficiente de debate, de escuta, até para um exercício de construção de algum consenso. O jogo irrompe já com as cartas marcadas, a tal ponto que o concorrente já sabia previamente de sua derrota. Foi isto que escutamos no discurso do candidato minoritário, Senador Pedro Taques.
Foi assim que se apresentou, como “um anticandidato derrotado”, como confirmaria, aliás, a apuração dos votos: dos 78 votantes, 56 votaram no Senador Renan Calheiros, reservando apenas 18 votos para o Senador Pedro Taques. Em torno de 20%! E quem é Renan Calheiros? Não obstante toda sua vida recente envolvida em escândalos, a ponto de sentir-se forçado a renunciar ao mandato de presidente do Senado, para ver-se livre de cassação, mas a maioria de seus pares acabou por absolvê-lo, num processo tumultuado e penoso, com graves prejuízos à imagem do Congresso. Mas, isto não impediu que senadores, não apenas do PMDB (salvo honrosas exceções), mas de toda a base do Governo (PT, inclusive, a segunda maior bancada) sagrassem a Renan Calheiros como presidente do Senado, ignorando seu passado recente e a recente ação movida pela Procuradoria da União, junto ao STF, contra a mesma figura…
O caso da eleição do Senador Renan Calheiros é apenas e tão-somente um episódio de uma enorme sucessão de desatinos que alcançam, de um modo ou de outro, todos os segmentos do Estado.
Ainda assim, não cessamos de ouvir, de ler declarações entusiásticas acerca da esperança em se renovar o Estado, em se “democratizá-lo”… Isto tem a ver com nossa concepção de democracia. Se nos conformamos com conquistar migalhas para parcelas significativas da população, fechando os olhos para as generosas fatias do bolo orçamentário e de tantos outros mecanismos de privilégios de que gozam setores da classe dominante… até que o Estado serve. Mas, se nosso sonho é de construirmos uma sociedade justa, solidária, capaz de cortar privilégios, de universalizar todos os direitos, de respeitar a dignidade d Planeta, aí a coisa muda. O Estado não vai dar conta disso!
No caso dos cidadãos e das cidadãs que orientam sua prática éticopolítica por valores próximos do Evangelho e do Seguimento de Jesus de Nazaré, a coisa é ainda mais complicada. Não tanto, porém, caso se contentem com atender aos objetivos de suas respectivas instituições, até porque, no caso de uma delas, a Católica Romana, ela própria atua como um Estado… E como explicar, com base evangélica, esse tipo de organização?
Consola-nos saber que, nas pouco perceptíveis “correnteza subterrâneas”, laicas ou com inspiração cristã, seguem sendo lançadas e a germinarem sementes de um novo modo de produção, de consumo, de gestão de sociedade e de convivência amorosa com o Planeta.
João Pessoa, 1 de fevereiro de 2013

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