Não, não foi o grito do Imperador, a proclamar uma “independência” da qual, mesmo após séculos de crueldades cometidas contra os Povos Indígenas, e após séculos de escravidão, a que foram – e continuam sendo! –submetidos milhões de Afrodescendentes, estes mesmos foram exluídos. Foi o Grito dos Excluídos e Excluídas e seus aliados, que se tem ouvido, alto e bom som, durante esses dias que precedem o 7 de Setembro, pelas ruas e praças de nossas cidades, nas distintas regiões do País.
Excluídos e Excluídas dos mais diversos direitos que lhes têm sido sistematicamente negados pelas forças que compõem o Capitalismo, por meio da trágica aliança entre o Mercado (grandes corporações transnacionais e nacionais (atuando em quase todos os setores enconômicos: paraísos fiscais e grandes órgãos das finanças, indústria de ponta, laboratórios, agronegócio, no comércio e nos serviços, grandes empreiteiras…) e o Estado (as grandes potências, inclusive o Brasil, em suas diversas esferas de poder e por meio de seus organismos multilaterais).
Assim organizada, a sociedade brasileira tem-se tornado refém desse modo de produção perverso, de seu respectivo modo de consumo e da forma de gestão nociva às maiorias empobrecidas e marginalizadas, BM como como nocivas ao Planeta.
Trágica aliança que, por todo o mundo e entre nós, ao atender e garantir a satisfação do insaciável apetite dos setores dominantes, produz crescentes levas de excluídos e excluídas. Exclusão que se manifesta, de diferentes modos:
– na esfera econômica: escandalosa concentração de riquezas. De terras e de renda, para o que as forças dominantes fazem o Estado distribuir migalhas para as maiorias famintas, e destinar do tesouro público, de mil maneiras, o grosso das riquezas ao grande capital. Para tanto, recorre-se a uma crescente gama de mecanismos, passando pela precarização crescente das relações de trabalho, dos processos de trabalho, do planejamento e implementação de políticas econômicas perversas, seja quanto à decisão do que, de como e para que(m) se produz, seja quanto ao desvairado incentivo ao consumismo;
– no plano político: vergonhosa sujeição do Estado e seus aparelhos, frequentemente transformados, à luz do dia, em instrumento a serviço dos interesses das forças de Mercado. Disso também são prova os sucessivos e crescentes escândalos (os famigerados “malfeitos”). Para se ter uma vaga idéia da sangria sofrida pelos setores majoritários da sociedade, vale a pena que nos perguntemos: a quanto montam as perdas resultantes dos incessantes escândalos (“Mensalão”, “Cachoeira”…)? Quanto do orçamento e destina à propaganda, e a quem interessa tal investimento escandaloso? Que percentual do bolo orçamentário destinado a tocar as várias políticas públicas chega ao seu verdadeiro destino?
– na grade de valores: servindo-se de uma complexa e extensa rede de instâncias institucionais (escola, família, igrejas, e principalmente a mídia comercial), vão sendo profundamente afetadas as relações sociais naqueles aspectos mais íntimos das pessoas e grupos, em seus valores, de modo a fazer prevalecer largamente idéias, valores, crenças e usos organicamente sintonizados com os interesses hegemônicos: consumismo, privatização dos espaços públicos, individualismo e concorrência desenfredos, feitos à base da famigerada “Lei do Gerson” (“Faça como eu: tire vantagem em tudo!”), individualismo, imediatismo, tendência crescente a condutas esquizofrênicas (a sentir-se uma coisa, pensar-se um segunda, querer-se uma terceira, e fazer-se uma quarta…)
Contra tal ordem de coisas é que, em tantas cidades, nas diferentes regiões do País, e também em João Pessoa, ecoou o 18º GRITO DOS EXCLUÍDOS E EXCLUÍDAS.
Na região metropolitana de João Pessoa, centenas de pessoas compareceram, ontem, às ruas e praças, percorrendo trechos dos mais movimentados da cidade. Vinham também representando suas mais distintas organizações de base: movimentos sociais do campo e da cidade; pastorais sociais: organizações do campo e da cidade, fazendo ecoar o grito de inúmeras entidades, dentre as quais movimentos sociais populares e sindicais (Índios,Comunidades Quilombolas, Mulheres, Movimento LGBT, Camponeses e Camponesas, Pastorais Sociais lidando com as Crianças, os Jovens, Crianças, Adolescentes, Pastoral Carcerária, Mundo do Trabalho, redes de Educadores e Educadoras, associações em defesa da vida e de educação preventiva junto a grupos e comunidades vulneráveis a epidemias, em defesa de segmentos afetados pela AIDS, Movimentos de defesa do Meio Ambiente, Centros e Associações comprometidos com a promoção da Cidadania, dos Direitos Humanos, da mística e dos direitos à memória, verdade e publicização e justiça; Amigos e Amigas da Natureza, fóruns de promoção e defesa da saúde pública, do SUS, da educação pública, entidades protagonistas da Economia Solidária, entidades do mundo sindical e do meio universitário e secundarista, entidades lidando com EJA e Educação do Campo, sem esquecer a presença de vários membros do clero e de participantes de outras igrejas e expressões religiosas… em breve: expressivas organizações de base de nossa sociedade.
Já pela manhã, no local habitual de concentração – a Lagoa -, a ONG Amazonas já se havia instado em sua barraca, equipada com materiais educativos de prevenção contra a AIDS, e, com serviço de som, a anunciar e a chamar a população transeunte a participar do 18º Grito dos Excluídos e Excluídas, que se iniciaria no começo da tarde.
A partir das 13h30, iam chegando sucessivos grupos, com suas bandeiras, faixas, cartazes, apitos, etc.. Uns chegavam de ônibus, vindos das cidades e da zona rural de vários municípios da redondeza (Bayeux, Santa Rita, Conde, Cabedelo, Cruz do Espírito Santo, Sapé, Mari, São Miguel do Taipu, Pilar, Alhandra, Pitimbu, Jacaraú, Mamanguape, sem esquecer os mais diversos bairros de João Pessoa; outros chegavam por outros meios.
Enquanto isso, já ligado o carro de som, a Equipe de animação do Grito começava a chamar os presentes a se perfilarem, em cinco blocos, correspondentes aos cinco eixos temáticos detidamente debatidos durante a fase preparatório do Grito (desde início de maio):
1. Eixo da Violência contra as Mulheres, homofóbica e contra a criminalização das Juventudes – Nesse bloco, pontificaram várias organizações e movimentos feministas, diversos segmentos do Movimento LGBT, bem como diversos grupos juvenis (inclusive universitários e secundaristas).
2. Eixo da Reforma Agrária, do Meio Ambiente e da Soberania Alimentar – Aqui se incluíram movimentos e pastorais sociais do campo; organizações engajadas na promoção e defesa do Meio Ambiente, atingidos por baragens, segmentos que lidam com a denúncia e o combate aos agrotóxicos e aos grupos e forças do Mercado que semeiam veneno e morte às fontes de água, aos rios, às matas e florestes, às plantações, aos animais e aos seres humanos…
3. Eixo da Mística, Memória, Verdade e Justiça – Aqui marcharam grupos, fóruns, organizações de base, trazendo fotos emblemáticas de lutadores e lutadoras do Povo, faixas e cartazes evocativos dos entraves enfrentados quanto à luta da sociedade brasileira pelo seu legítimo DIREITO ao conhecimento da verdade acerca do que se passou, durante tenebroso período da ditadura empresarial-militar, em que ainda restam inexplicados muitos fatos relativos a desaparecidos e torturadores. Direito do qual a sociedade não pode abrir mão, sob pena de favorecer, com tal omissão, semelhante reedição dessas práticas.
4. Eixo Estado, Democracia e Desenvolvimento Sustentável – Ainda que, na 18ª. Edição do Grito dos Excluídos e Excluídas, se tenha optado pelo tema “Por um Estado a serviço da Nação”, bem sabemos tratar-se de tarefa impossível, à medida que, por definição, o Estado é parte componente essencial desse “sistema totalitário mercantil”, e, por conseguinte, insusceptível de um processo democrático radical. Prova disto é, por ex., sua incapacidade de universalizar as políticas públicas, mesmo as essenciais, visto que a essas são destinadas apenas as migalhas das riquezas produzidas, haja vista o montante destinado ao Programa Bolsa Família e o que é destinado, via dos mecanismos de política de endividamento, ao pagamento da dívida pública… O modelo de desenvolvimento resulta frontalmente insustentável!
5. Eixo das Políticas Públicas (Saúde, Educação, Moradia, Transporte Público, Mobilidade Urbana)… –
Aqui a ênfase recaiu na denúncia às políticas de privatização em curso. Às vezes claramente, por vezes de forma maquiada, prevalece a lógica de Mercado, a tirar vantagens do conluio com o Estado. Saúde, Educação, Transporte Público, Moradia – tudo passa pela trágica parceria entre Estado e Mercado. Nem o SUS escapa. E o quê dizer de outros serviços públicos essenciais, como a saúde e o transporte público?
Aqui a ênfase recaiu na denúncia às políticas de privatização em curso. Às vezes claramente, por vezes de forma maquiada, prevalece a lógica de Mercado, a tirar vantagens do conluio com o Estado. Saúde, Educação, Transporte Público, Moradia – tudo passa pela trágica parceria entre Estado e Mercado. Nem o SUS escapa. E o quê dizer de outros serviços públicos essenciais, como a saúde e o transporte público?
Com base nesses eixos, o 18º GRITO DOS EXCLUÍDOS E EXCLUÍDAS de João Pessoa e outros municípios paraibanos cuidou de deoxar seu recado, suas denúncias, suas reivindicações, não apenas pelas faixas, cartazes, bandeiras, músicas (tanto as animadas por Ricardo Brindeiro e demais membros da Equipe de Animação, como os dois belos números musicais protagonizados pelo Grupo de Adolescentes e Jovens, protestando contra a criminalização das Juventudes, já no início da marcha), palavras de ordem, fotos de políticos que, na votação do Código Florestal, tiveram posição contrária à luta dos movimentos sociais e organizações de base.
Não menos importante a destacar é a disposição. fruto do compromisso ético-político, por parte dos participantes do 18º GRTITO DOS EXLUÍDOS E EXCLUÍDAS, de dar dar prosseguimento às suas lutas. É o chamado pós-Grito!
Eis uma breve e parcial leitura do que foi o 18º GRITO DOS EXLUÍDOS E EXCLUÍDAS, no dia de ontem, pelas ruas e praças de João Pessoa. Dele vamos ter relatório circunstanciado e fotos, no momento oportuno, a ser assegurado pela Coordenação da Assembléia Popular. Agora, apenas um pequeno aperitivo de um participante, com o propósito de compartilhar suas impressões e socializar a experiência com pessoas, grupos e movimentos de outras partes da Paraíba e do Brasil.
João Pessoa, 7 setembro de 2012.
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